A IA Generativa no Direito é apenas um hype?

A Inteligência Artificial Generativa já é uma realidade incontestável e, sinceramente, vejo como um caminho sem volta. Sejamos diretos: aqueles que ainda questionam se essa tecnologia é apenas um “hype” não estão apenas atrasados, mas podem estar se “excluindo” do mercado. Muitos advogados ainda resistem em aceitar o óbvio, o que me leva a crer que eles podem estar cometendo os mesmos erros do passado, uma negligência que pode custar muito caro. Antes mesmo da chegada da IA Generativa, diversas tecnologias que hoje estão ganhando espaço no jurídico já eram exploradas em outros setores há décadas. A pandemia, apesar dos pesares, acelerou uma transformação digital no Direito que muitos julgavam ser impossível, impulsionando mais mudanças nos últimos três anos do que nos últimos dez anos.

Com o avanço da IA Generativa, observamos projeções indicando que cerca de metade das atividades empresariais conhecidas hoje poderão ser automatizadas em uma década. Segundo a McKinsey, até 2030, até 70% dessas atividades poderão ser automatizadas por essa tecnologia que está se tornando cada vez mais sofisticada. Para aqueles que ainda não despertaram para essa realidade, a OpenAI planeja lançar o GPT-5 em meados de agosto deste ano, um marco que não representa apenas um avanço, mas uma verdadeira revolução. Para você que já usou o GPT, seja na versão gratuita ou paga, o que você tem a dizer sobre isso?

Richard Susskind já disse, e eu reafirmo: “o advogado não será substituído pela IA, mas sim pelo advogado que a utiliza“. Alguns podem temer que a IA Generativa represente uma ameaça existencial para a profissão jurídica, mas me permita esclarecer ainda mais: a IA não pode replicar a criatividade, o julgamento crítico e a empatia humana. É momento de encarar a IA como uma ferramenta que amplia as capacidades, não que as substitui.

Como observador dos movimentos globais no mercado jurídico, posso afirmar que atualmente existe uma janela de oportunidades sem precedentes para advogados autônomos e pequenos escritórios. A tecnologia não está apenas nivelando o jogo, mas também está abrindo uma nova era de competição que tem despertado grandes preocupações nas grandes advocacias ao redor do mundo. Essa tecnologia está “desbloqueando” capacidades que antes eram exclusivas das grandes firmas.

Além do avanço tecnológico, uma mudança significativa nas expectativas dos clientes está redirecionando o mercado. Clientes agora valorizam mais a personalização e a agilidade nas respostas, características frequentemente associadas a escritórios menores. Esses fatores permitem que pequenas bancas ofereçam um serviço altamente adaptativo e competitivo, muitas vezes em paridade com grandes escritórios. Por outro lado, os grandes escritórios podem enfrentar desafios ao tentar ajustar suas estratégias devido ao tamanho e complexidade de suas estruturas. A natureza grande e muitas vezes rígida dessas bancas pode retardar sua capacidade de responder prontamente às novas demandas do mercado, um problema menos comum entre escritórios menores.

Adicionalmente, as grandes bancas também devem lidar com a concorrência de escritórios de advocacia internacionais, que frequentemente têm recursos substanciais e alcance global. Esses escritórios internacionais podem ser rápidos em captar mudanças nas expectativas dos clientes, colocando uma pressão adicional sobre os grandes escritórios locais.

No entanto, é importante notar que ambos, grandes e pequenos escritórios, estão diante de boas oportunidades de crescimento e consolidação no mercado. O sucesso de cada um dependerá de quão eficazes serão em ajustar suas estratégias para aproveitar as vantagens da tecnologia e se alinhar com as expectativas dos clientes. Ser um bom estrategista e se adaptar rapidamente às mudanças será crucial para qualquer tamanho de escritório que deseje manter ou aumentar sua relevância no mercado jurídico atual.

Advogados frequentemente expressam a preocupação: “Estamos atrasados tecnologicamente e não queremos ficar para trás.” Este é um sentimento global, ampliado ainda mais pela rápida evolução da IA Generativa. Está claro que a IA representa uma revolução incontornável e será um pilar fundamental para a economia e as organizações na próxima década. A IA Generativa é acessível a qualquer um com instruções mínimas e já está integrada em ferramentas cotidianas, como o pacote Office, transformando radicalmente nossas formas de trabalhar e interagir.

Acredito que a IA Generativa ainda está em seus estágios iniciais de desenvolvimento e aplicação. Muitos colegas têm me perguntado por onde começar. Portanto, deixo aqui algumas reflexões para que você possa iniciar sua jornada com a IA Generativa. Em um mundo tão dinâmico, como podem as advocacias fazer mais do que simplesmente “acompanhar”? Quais estratégias, estruturas e abordagens de gestão de talentos serão necessárias para preparar seu escritório para um futuro impulsionado pela IA? A situação está evoluindo rapidamente e, honestamente, não existe uma única resposta para a questão de como implementar a IA generativa no seu escritório — como em qualquer tecnologia, é fundamental considerar o contexto particular da sua organização.

Para começar, é crucial que advogados e time de TI avaliem como a implementação da IA Generativa pode influenciar sua organização no cotidiano, especialmente em relação aos colaboradores e clientes. É vital que tanto colaboradores quanto gestores desenvolvam uma compreensão clara dos pontos fortes e fracos da IA generativa, além de como seu uso se alinha com os objetivos estratégicos da organização. Dado o potencial desta tecnologia para impulsionar a automação, a liderança deve tratar dos receios comuns dos colaboradores relacionados a “substituição e perda”, ressaltando o potencial da IA para “eficiência e produtividade”. Inclusive, como essa tecnologia pode enriquecer a experiência dos colaboradores, por exemplo, ao reduzir o tempo gasto em tarefas repetitivas, liberando mais espaço para atividades estratégicas. Que tal considerar também a possibilidade de permitir que os colaboradores encerrem suas jornadas mais cedo, promovendo assim um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal?

A principal etapa, a meu ver, é desmistificar a tecnologia para os demais, visto que ainda existem inúmeros mitos associados à Inteligência Artificial Generativa. Isso envolve dar um passo atrás para avaliar as implicações estratégicas da IA generativa, assim como os riscos e oportunidades para o negócio. Conforme a liderança desenvolve uma narrativa convincente para o uso da IA generativa, é crucial identificar duas ou três aplicações de alto impacto para explorar. Envolver os usuários nesta fase é essencial, pois isso permitirá guiar a adoção e o desenvolvimento da ferramenta de IA Generativa de modo que agregue valor tanto para os usuários quanto para a organização. É importante que estejam envolvidos desde os testes pilotos até a implementação em larga escala, integrando a IA como um componente essencial do negócio. Além disso, os advogados estarão comprometidos em desenvolver as competências, habilidades e capacidades necessárias — tanto presentes quanto futuras — para que possam continuamente experimentar com a IA generativa e manter uma vantagem competitiva. A IA generativa possui um grande potencial para empoderar indivíduos, mas isso só será possível se a liderança do escritório tiver uma visão abrangente de suas capacidades e considerar as particularidades da sua organização.

A automação impulsionada pela Inteligência Artificial Generativa irá transformar todos os aspectos do negócio, desde as horas trabalhadas até a precificação, remuneração, tarefas e responsabilidades dos profissionais em diversos níveis de posição e formação. É possível que presenciemos nos próximos anos uma reconfiguração significativa no Direito, desafiando os profissionais a refletirem sobre como a IA gera valor e como a integração de recursos de IA Generativa pode reinventar suas práticas e negócios.

Em vez de assumir uma postura passiva, é essencial ponderar sobre os efeitos primários, secundários e terciários da IA Generativa. Quais casos de uso de negócios são prioritários agora e quais poderão ser explorados nos próximos seis meses, 12 meses ou mais? Que mudanças serão necessárias em nível funcional para facilitar a implementação e expansão da IA Generativa? Por exemplo, quais competências os advogados e demais colaboradores precisarão desenvolver? Com a integração crescente de ferramentas como o Copilot da Microsoft, que impacto isso terá nas formas de trabalhar em toda a organização? Poderia a IA Generativa acelerar a transição para uma semana de trabalho de quatro dias? Esta não seria uma má ideia, concorda? E, de maneira mais ampla, como a IA Generativa impacta as indústrias dos seus clientes? Já parou para pensar nas oportunidades de negócio que podem surgir para o seu negócio a partir dessa tecnologia?

Um ponto que tem chamado minha atenção é o potencial da Inteligência Artificial Generativa como catalisadora de mudanças culturais. A IA Generativa pode aumentar a transparência e a conectividade organizacional. Tenho observado de perto o uso de uma ferramenta de IA Generativa que idealizei e desenvolvi em parceria com a Microsoft. Este é o primeiro projeto de IA Generativa aplicado ao Direito na América Latina. Saiba mais aqui. Esta ferramenta permite que os usuários façam perguntas sobre operações, informações de negócios e outras questões relevantes, utilizando todos os dados proprietários do escritório para fornecer respostas que orientam os usuários em todos os níveis, tanto administrativo quanto jurídico, a acessarem informações e dados importantes.

Os colaboradores relatam que se sentem mais informados e conectados; essa ferramenta revoluciona completamente a maneira como interagem e acessam informações. Após alguns meses monitorando o uso da ferramenta de IA Generativa, tenho notado claramente características essenciais para uma mudança cultural “pró-inovação” — um desafio histórico para o setor jurídico. Essas características incluem adaptabilidade, agilidade, confiança, engajamento, aprendizado, experimentação e uma grande disposição para inovação, todas fundamentais para organizações que desejam ser verdadeiramente inovadoras.

Além disso, a curva de adoção desta tecnologia foi surpreendentemente rápida, com centenas de usuários integrando a ferramenta de IA Generativa em sua rotina diária. Posso afirmar com confiança que nenhum deles consegue mais operar sem este valioso recurso. Isso representaria uma vantagem competitiva em termos de atração e retenção de talentos, especialmente para a geração Z? Eu acredito que sim.

Estas são apenas algumas reflexões que, sem dúvida, apoiarão você nesta jornada de inovação; ainda há muito por explorar. As decisões sobre a concepção da arquitetura da solução e do modelo operacional variarão de escritório para escritório, mas, independentemente da abordagem escolhida, minha experiência com projetos de inovação no Direito sugere que a criação de valor deve ser o foco central das discussões.

Quanto ao desenvolvimento da ferramenta, é crucial considerar ciclos curtos e rápidos de experimentação e iteração, levando em conta os feedbacks daqueles que são parte fundamental do processo: as pessoas. Elas irão fornecer orientações cruciais sobre o uso e as expectativas da ferramenta. Para atingir esses objetivos, recomendo a formação de pequenos times multidisciplinares que trabalhem de forma integrada na iniciativa, os chamados Early Adopters. E o mais importante é começar pequeno, permitindo que o desenvolvimento da sua ferramenta de IA Generativa evolua de maneira gradual e sustentável.

Por fim, ao conversar com diferentes escritórios ao redor do mundo, percebo que, embora estejamos em um patamar similar em termos de tecnologia, estamos muito atrás em termos de estratégia de negócios. Aquele advogado ou escritório que conseguir desenvolver estratégias eficazes certamente ganhará mais espaço no mercado. Isso ocorre porque a transformação que estamos testemunhando está mais relacionada à mudança nas expectativas dos clientes do que ao simples avanço tecnológico.

Portanto, é essencial não apenas acompanhar, mas liderar a vanguarda da inovação no Direito. Devemos entender que as ferramentas de IA Generativa não são apenas facilitadores; são os catalisadores de uma era onde adaptabilidade e agilidade se tornam as chaves para o sucesso. Em um mundo em constante mudança, a capacidade de inovar e de se reinventar não é apenas uma vantagem competitiva, é uma necessidade absoluta.

Não tenhamos medo de ousar, de experimentar, de falhar e de aprender com esses fracassos. Afinal, na intersecção entre a Tecnologia e o Direito, se encontram as soluções para os desafios mais complexos de nossos tempos. Vamos juntos moldar o futuro do Direito, não apenas para responder às expectativas atuais, mas para superá-las, elevando a prática jurídica a novos patamares de excelência e eficiência. O Futuro não pertence àqueles que se apegam ao passado, mas sim àqueles que têm a coragem de reinventar o presente. Para os profissionais do Direito, o momento de agir é agora: a inovação não espera e os clientes também não. Uma oportunidade perdida pode nunca mais retornar. Que cada decisão tomada seja um passo em direção a um futuro em que a Tecnologia e o Direito sejam aliados incontestáveis do sucesso. Que sua jornada seja marcada não apenas pela adoção de novas ferramentas, mas pela transformação que você lidera.

PS: Esse artigo não sobre Tecnologia ou IA Generativa.

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