Ruth Maria Guerreiro
Através das pessoas. Pense bem. O que impulsiona o mercado de consumo atual? A experiência do usuário. Como melhorar a experiência desses usuários? Entendendo da forma mais profunda e detalhada como as pessoas se comportam, quais os seus desejos mais íntimos e até mesmo aqueles que elas nem sabem que têm.
Os dados pessoais são o grande propulsor dessa realidade. É através da sua coleta, refinamento e tratamento em grande escala que se faz possível traçar perfis cada vez mais detalhados.
Em um mundo amplamente conectado, as pessoas buscam opiniões, produtos e serviços primeiramente em buscadores e redes sociais, para depois pedirem a opinião de seus amigos e familiares. Essa análise permite traçar planos estratégicos e subsidiar a tomada de decisões e, quanto mais apurados esses dados são, melhores são os insights tirados deles.
E como a proteção de dados pessoais pode ajudar a minha empresa a prosperar?
As pessoas estão se sentindo cada vez mais invadidas com o tratamento de dados em grande escala. Recebem infinitas ligações, e-mails e mensagens oferecendo produtos e serviços; temem não serem contratadas por algo que postaram em suas redes sociais há anos; sentem que não há verdadeiramente uma esfera privada.
As legislações de proteção de dados pessoais de todo o mundo têm em comum o princípio da transparência. E transparência gera confiança: a base dos relacionamentos duradouros. Qual empresa não deseja um relacionamento duradouro com seus clientes e colaboradores?
Uma pesquisa realizada pela Deloitte[1] em junho de 2021, com executivos de grandes empresas, demonstrou que 56% deles acreditam que o investimento em privacidade de dados poderia alavancar os negócios e 47% destes acreditam que o fator impulsionador é o ganho da confiança e da lealdade do consumidor.
Então, se a empresa estiver adequada à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) ela terá muitos clientes? Se fosse uma fórmula mágica não haveria uma só empresa no Brasil que não estaria adequada à LGPD.
Agora, o contrário é verdadeiro. Se a sua empresa não tiver a confiança e a lealdade dos seus clientes estará fadada ao fracasso. É o que demonstra uma pesquisa mundial realizada pela Salesforce[2] com mais de 12 mil consumidores do mundo todo, inclusive brasileiros, em que se apurou que 99% deles acreditam que as empresas precisam melhorar a sua confiabilidade.
E as empresas B2B, que possuem apenas clientes pessoas jurídicas? São impactadas? Definitivamente. A proteção de dados pessoais desperta uma reação em cadeia. As empresas que estão “na ponta”, de frente com o cliente pessoa física (B2C), não têm escolha, devem se adequar à LGPD.
Por conseguinte, essas empresas (B2C), em suas atividades, compartilham dados pessoais com empresas B2B, que em uma perspectiva de responsabilidade, também devem estar adequadas.
E mais. Toda empresa que possua colaborador deve estar adequada à LGPD. Quer coisa melhor do que ter a confiança dos seus colaboradores? Segundo pesquisa realizada pelo Valor Econômico[3] até meados de janeiro de 2021 já eram 139 processos trabalhistas que citavam a LGPD. O que será daqui para frente?
A reputação da sua marca e a sustentabilidade da sua empresa certamente farão sua empresa prosperar e isso só será possível com a confiança e lealdade de seus clientes e colaboradores.
Empresas vanguardistas que acompanham as tendências do mercado sabem que sem proteção de dados não há cliente. Não é à toa que o Banco Itaú, Apple e outras grandes empresas “vendem” a privacidade. Independente da prática estar alinhada ao discurso, fato é que elas sabem o valor da privacidade e da proteção de dados (que à propósito são diferentes[4]).
Não se trata apenas de obrigação legal, adequar sua empresa à LGPD pode mantê-la ou tirá-la do mercado. E não apenas pelas multas ou por qualquer outra sanção (o que ninguém deseja), mas por perder clientes e colaboradores que não confiam na sua empresa.
[1] Pesquisa “Estratégias para um futuro cibernético” realizada pela Deloitte Brasil em junho de 2021. Para acesso integral à pesquisa acessar: https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/risk/articles/estrategias-futuro-cibernetico.html
[2] Para maiores detalhes sobre a pesquisa acesse https://www.salesforce.com/br/form/conf/pdf/state-of-the-connected-customer/.
[3] https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2021/01/20/trabalhadores-usam-a-lgpd-para-buscar-direitos-na-justica.ghtml
[4] Em uma concepção superficial a privacidade é o direito de estar só, uma liberdade negativa, em que a pessoa nega o acesso à sua esfera íntima, já a proteção de dados pessoais é assegurar ao titular dos dados o controle de seus dados, mesmo que em poder de terceiros. Atualmente ambos os conceitos estão muito vinculados, pelo fato de que sem a proteção de dados dificilmente uma pessoa seria capaz de ter a sua privacidade protegida.