É inegável que as novas áreas do Direito – muitas ligadas diretamente à tecnologia – deram fôlego à profissão e ampliaram as possibilidades de negócios, diversificando as oportunidades de atuação. Entretanto, a atual crise econômica dificultou a manutenção e a abertura de vagas, em especial para os jovens advogados. Anualmente, um grande número de formandos chega ao mercado de trabalho brasileiro, já que o país é um recordista de cursos de graduação no setor. Diante desse cenário, quais as expectativas para quem inicia a carreira?
Por meio de associações e de comissões instituídas nas células regionais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), esse contingente tem se posicionado em busca de objetivos como integração, estímulo à ética e à disciplina, ampliação de conhecimentos sobre honorários, assistência, participação em decisões dos conselhos e organização de encontros, palestras, treinamentos e debates.
Alguns dos temas de mais interesse para essa parcela de advogados, entre os ministrados por esses órgãos, são empreendedorismo, prospecção de clientes, posicionamento em redes sociais e desenvolvimento de habilidades não jurídicas, além de, justamente, a capacitação nas novas áreas jurídicas.
Diversidade e precarização
Entre as dificuldades enfrentadas por esses profissionais, duas questões refletem desafios comuns a outras classes trabalhadoras: a falta de abertura à diversidade e a precarização.
Na primeira delas, a situação de inexperiência se agrava quando a ela se soma a participação desigual de negros, mulheres e representantes da comunidade LGBTQIAP+ * no universo advocatício, realidade ainda mais restrita quando levados em consideração os cargos de liderança.
Segundo dado divulgado ** pelo Centro de Estudos de Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), os negros representavam em 2018 apenas 1% dos advogados dos grandes escritórios.
Em relação ao segundo obstáculo, somam-se problemas de saúde mental, agravados por condições de atuação precárias. Um estudo *** da Universidade Católica do Salvador constatou: “… a tradicional profissão jurídica padece em uma nova morfologia organizacional que, para se tornar viável, depende da precarização do trabalho, principalmente do jovem advogado. Ao alterar a dinâmica laboral, essa metamorfose abalou sensivelmente os pilares edificadores da carreira”, concluiu o pesquisador Vander Luiz Pereira Costa Junior após entrevistar advogados entre 20 e 30 anos com até cinco anos de inscrição na OAB.
Para os iniciantes, a realidade que se descortina em curto prazo é a necessidade de inserção e reconhecimento em meio à crise, com as dificuldades já conhecidas dentro do mercado (como falta de pluralismo e condições insatisfatórias de trabalho). Ao mesmo tempo, as áreas relacionadas à tecnologia conferem novas oportunidades a quem inicia sua carreira jurídica. Dedicar-se a esses nichos pode ser a saída buscada por muitos recém-formados em direção ao destaque profissional.
* https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/noticias/465934
*** http://ri.ucsal.br:8080/jspui/bitstream/123456730/170/1/Costa%20JUNIOR%2c%20VLP-2016.pdf