A importância do olhar para dentro e fora das organizações
Por Renata Maiorino com colaboração de Laura Mattar
Esse ano, completo 13 anos de recursos humanos no Mattos Filho e, com olhar retrospectivo, tenho certeza de que muitas coisas evoluíram no escritório e no mercado jurídico, impulsionando o crescimento do RH no setor.
Vimos uma surpreendente profissionalização no mercado legal nos últimos dez anos – fruto de uma concorrência mais ativa, um olhar mais atento para resultado financeiro e pessoas. Ficou mais evidente a importância de que obter melhores resultados não é apenas uma tarefa numérica e de busca por mais receita, mas a soma do olhar para os nossos talentos, a criação de um ambiente saudável de trabalho e uma boa gestão. Esses fatores, juntos, são capazes de impulsionar o resultado financeiro.
Um dos grandes desafios, de lá para cá, foi consolidar a área de Recursos Humanos, capaz de atender as demandas acima e que, em parceria com a gestão do escritório, pudesse avançar de forma inovadora com o tema central: nossas pessoas. Desde então, assumimos que seríamos uma área de Desenvolvimento Humano, o DH, em constante evolução na temática de gestão de pessoas.
Formar times de alta performance nessa profissão, que exige tanto dos profissionais, está longe de ser uma tarefa simples, mas é, sem dúvida, essencial. Mais do que o desafio de criar uma área, é ter certeza de que não se olha apenas o galho (no caso, as funções do DH), mas para a floresta: os desafios do negócio. Somos em cinco importantes frentes de atuação: Saúde, Ambiente e Compliance; Atração e Desenvolvimento; Cidadania Corporativa; Relacionamento com sócios e Business Partners; e People Analytics e Gestão da Performance. Juntas, oferecemos uma contribuição conectada à estratégia e à liderança. Tudo isso só funciona com o engajamento da gestão do escritório somado ao entendimento do nosso papel como Recursos Humanos.
Passado esse tempo, vejo que o papel da liderança de pessoas deve transcender o tema de gestão de pessoas e, cada vez mais, ser traduzido para o negócio. Relações humanas, cuidado com o bem-estar, desempenho, engajamento, humanização, diversidade e inclusão, comportamento ético e compromisso social são temas-chave para as organizações, que contribuem para o resultado financeiro e impactam a sociedade. Porém, entendo que ainda existe, no mercado jurídico e em outros, um gap a ser preenchido entre o papel do RH, as pautas estratégicas para o negócio e a imagem reputacional das organizações, especialmente quando pensamos em critérios ESG tão requisitados atualmente.
Falar sobre a pauta ESG é falar sobre pessoas. O leitor pode dizer: óbvio, o S é de social, portanto, de pessoas. Mas, a verdade é que as pessoas estão no S, mas também precisam do meio-ambiente (o E, de environment); e, ainda, do G, de governança, para um ambiente de trabalho ético e respeitoso, cujo funcionamento esteja de acordo com a legislação.
Se um escritório de advocacia depende das pessoas para prestar seus serviços jurídicos, evidente que a pauta ESG se torna ainda mais relevante para o negócio. A área de Cidadania Corporativa do Mattos Filho tem uma atuação ampla, que vai desde investimento social privado, passando por voluntariado corporativo até compliance. Especificamente no tema ESG, dedica-se a todas as três frentes de diferentes formas: no E, atua pelo meio ambiente ao quantificar a emissão de carbono, ter um plano para reduzi-la e a emissão residual, compensar. Está-se, assim, a assumir e respeitar um compromisso ético com as futuras gerações e, também, por que não, com os eventuais futuros sócios. Já o S tem a ver com programas como o de diversidade, equidade e inclusão, que, além de promover a justiça social, gera, gradativamente, um ambiente de trabalho mais produtivo, colaborativo e inovador, portanto, também mais lucrativo. Por fim, ter uma boa governança tem implicações importantes para o dia a dia do escritório e das pessoas, em especial no que diz respeito à qualidade das relações no ambiente de trabalho, sendo um fator importante no desenvolvimento e retenção de talentos.
É possível, pois, dizer que trabalhar a pauta ESG em uma área de Desenvolvimento Humano de um prestador de serviços é colocar as pessoas, de fato, no centro da estratégia do negócio. Isso porque tem como intuito criar uma cultura organizacional que forme, além de excelentes profissionais, cidadãos e cidadãs do país, com clareza sobre suas responsabilidades na sociedade. É somente em uma cultura de respeito, de colaboração, em que se pensa e age sobre o bem comum, o coletivo, dentro e fora da organização, que será possível garantir a prosperidade do negócio e do país. Sem falar no fortalecimento de imagem e reputação não só entre os clientes, mas entre profissionais, em especial os mais jovens.
No final das contas, a verdade é que a atuação ESG com o olhar de pessoas dentro de um DH pulsante, como o nosso, é a receita do sucesso de prestadores de serviços. E, é por esse e outros fatores que atuar como liderança de DH fica cada vez mais interessante, mais amplo e cheio de propósito.
Laura Davis Mattar | Gerente de Cidadania Corporativa, Diversidade, Equidade e Inclusão do Mattos Filho
Formada em Direito pela PUC-SP, fez especialização em Direitos Humanos na Faculdade de Direito da USP, tem LL.M pela Sussex University, na Inglaterra, e doutorado pela Faculdade de Saúde Pública da USP, durante o qual foi visiting scholar na Columbia University, nos Estados Unidos. Atuou no setor social por mais de 15 anos e, desde 2016, é a pessoa responsável pelas iniciativas de Cidadania Corporativa, Diversidade, Equidade e Inclusão do Mattos Filho.