O setor jurídico vive um momento de transformação impulsionado pela inteligência artificial. Escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, tradicionalmente sobrecarregados por grandes volumes de documentos, contratos e informações complexas, têm encontrado na automação uma aliada estratégica para superar desafios operacionais.
Neste contexto, entrevistamos Rodrigo Bobrow, CEO e cofundador do Tela, que compartilhou sua visão sobre os principais desafios que a IA ajuda a resolver, os impactos da automação na redução de custos e aumento da qualidade, as áreas do Direito em que a tecnologia tem se mostrado mais eficaz e os cuidados necessários para implementar soluções em processos sensíveis.
- Quais são os principais desafios operacionais que a inteligência artificial pode ajudar a resolver dentro dos departamentos jurídicos e escritórios de advocacia?
O setor jurídico lida diariamente com altos volumes de documentos, contratos e informações complexas que demandam tempo e precisão. Nesse contexto, a inteligência artificial surge como uma aliada estratégica para superar os principais desafios operacionais. Entre eles a revisão de contratos, a realização de due diligence, a realização de cálculos monetários em processos, a geração de petições automaticamente e a gestão administrativa de prazos e processos.
Ao assumir essas tarefas repetitivas e de baixo valor agregado, a IA libera advogados e equipes para concentrarem seus esforços naquilo que de fato exige raciocínio crítico, estratégia e criatividade. A experiência do Jusbrasil Soluções ilustra bem esse cenário: ao integrar a tecnologia da Tela em seus fluxos de trabalho, a empresa conseguiu automatizar o processamento de 11 mil documentos por mês, alcançando 99,5% de acurácia na classificação e eliminando gargalos que antes travavam a operação.
- Como a automação pode contribuir para reduzir custos e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade do serviço jurídico prestado?
A automação no ambiente jurídico não é apenas uma ferramenta de redução de custos, mas também uma oportunidade de elevar a qualidade dos serviços prestados. Ao substituir tarefas manuais por processos automatizados, reduz-se a ocorrência de erros, garante-se maior padronização e consistência e aumenta-se a previsibilidade das entregas. Isso significa que os escritórios e departamentos jurídicos conseguem escalar sua atuação otimizando recursos e direcionando a energia dos profissionais para ações mais estratégicas e até mesmo humanas.
O impacto é duplo: de um lado, ganhos financeiros pelo aumento na capacidade de entrega com diminuição de esforço; de outro, clientes mais satisfeitos com entregas rápidas, precisas e confiáveis. No caso do Jusbrasil, esse equilíbrio ficou evidente: a solução da Tela proporcionou uma redução de 70% nos custos operacionais ao mesmo tempo em que aumentou em 450% a produtividade da equipe, demonstrando que é possível conciliar eficiência com excelência.
- Em quais áreas do Direito a aplicação da IA tem se mostrado mais eficaz até o momento?
As experiências já consolidadas demonstram que a inteligência artificial é especialmente eficaz em áreas que envolvem grande volume de dados e necessidade de padronização e estruturação.
O Direito Contratual e Societário tem se beneficiado com soluções voltadas à revisão e gestão de riscos em contratos. No campo Trabalhista, a IA auxilia no tratamento de litígios de massa e na identificação de padrões em ações repetitivas. O Tributário é outro exemplo, com tecnologias que facilitam o acompanhamento de mudanças regulatórias e o cálculo de riscos fiscais. Já no Contencioso de massa, a automação de peças processuais e o monitoramento de processos são elementos transformadores.
Nessas áreas, a tecnologia não substitui o trabalho do advogado, mas multiplica sua capacidade de análise e eficiência.
- Quais cuidados devem ser considerados ao implementar soluções de IA e automação em processos jurídicos sensíveis?
Ao falar de automação, devemos pensar em muitas frentes, como segurança, mas também a qualidade do resultado. Processos sensíveis exigem precisão, clareza e resultados que o profissional possa usar de imediato, sem retrabalho. Isso significa investir em soluções que não afastem o profissional da análise, mas que entreguem informações estruturadas, confiáveis e acionáveis.
Na Tela, essa é a prioridade: nossa plataforma combina IA generativa com validação humana em etapas estratégicas, garantindo outputs consistentes e contextualizados. Além disso, squads especializados acompanham cada cliente para ajustar fluxos e regras de negócio em tempo real, o que assegura escalabilidade sem abrir mão da qualidade.
- A inteligência artificial pode apoiar a elaboração de estratégias jurídicas ou seu papel deve ser restrito ao apoio operacional?
A inteligência artificial vai muito além do apoio operacional quando é aplicada de forma estruturada. Uma plataforma como a Tela, desenvolvida no modelo no-code e com IA generativa, permite não apenas automatizar processos, mas também transformar grandes volumes de dados em insights estratégicos.
Com a capacidade de processar e estruturar centenas de milhares de documentos, como contratos, petições, decisões judiciais ou relatórios regulatórios, a Tela entrega informações já organizadas e prontas para uso estratégico. Esse processamento é acompanhado por squads especializados, que adaptam fluxos e regras de negócio às necessidades de cada cliente.
O resultado é uma operação que combina escala com confiabilidade, garantindo outputs acionáveis para áreas jurídicas e de negócio, sem comprometer a análise crítica do profissional. Isso cria uma base sólida para que os advogados e profissionais de todas as áreas tomem decisões mais rápidas e embasadas, sem abrir mão da análise crítica, mantendo o humano na jornada. Assim, a IA não substitui o raciocínio estratégico, mas o potencializa, oferecendo ao setor jurídico um novo patamar de eficiência e inteligência aplicada.
Rodrigo Bobrow é co-fundador e CEO do Tela, investida por fundos renomados como Monashees e Audacious. Antes do Tela, Rodrigo liderou equipes e estratégias de produto na Wildlife Studios, uma das maiores desenvolvedoras de jogos mobile do mundo, após iniciar sua carreira na Bain & Company, uma das maiores consultorias globais de gestão. Formado em Engenharia Mecatrônica pela POLI-USP, possui sólido background analítico e estratégico, com perfil pragmático e direto na execução.
Hoje, dedica-se integralmente a levar o poder dos modelos de linguagem (LLMs) para operações reais e em larga escala, ajudando grandes empresas a transformar e escalar seus processos com segurança, qualidade e velocidade.