“A tecnologia eleva o papel do advogado de um executor de tarefas para um estrategista”, ressalta Bruno Souza

Muito se fala sobre tecnologia no Direito, mas como ela realmente impacta a rotina dos advogados? Da automação de tarefas repetitivas ao uso da jurimetria para decisões estratégicas, as ferramentas digitais estão transformando a advocacia em um campo mais ágil e inteligente. No entanto, essa transformação vai além da técnica: envolve cultura, treinamento e ética.

Nesta entrevista, conversamos com Bruno Souza, Sócio do Urbano Vitalino Advogados, que explicou como o escritório tem integrado inteligência artificial, automação e análise de dados em sua operação, e quais aprendizados podem inspirar outros profissionais do setor.

1) Quais são as principais tecnologias atualmente utilizadas por escritórios de advocacia para aumentar a produtividade? 
 
Hoje, as tecnologias que realmente fazem a diferença para a nossa produtividade podem ser divididas em três áreas principais. 

Primeiro, temos a espinha dorsal da nossa operação: um software de gestão jurídica proprietário, que é o Knox. Ele não é apenas um sistema de controle de processos, mas a nossa plataforma central que integra tudo. Isso garante que a equipe tenha acesso rápido e unificado a informações de clientes, prazos e documentos, eliminando a perda de tempo com a busca por dados em diferentes lugares. 

Em segundo lugar, focamos na automação de tarefas repetitivas que consomem muito tempo. Temos diversas automações integradas ao Judiciário, como o protocolo automatizado, que nos permite protocolar documentos em massa e de forma rápida, liberando a equipe para se dedicar a análises mais complexas. Além disso, utilizamos IA para a elaboração de modelos de peças processuais, o que acelera drasticamente a criação de documentos padronizados e garante a consistência do nosso trabalho. 

Por fim, e esse é um grande diferencial, utilizamos a tecnologia para a tomada de decisões estratégicas. Através da jurimetria, análise preditiva e BI (Business Intelligence), nós transformamos dados brutos em insights valiosos. Isso nos permite analisar o histórico de casos, prever resultados e identificar tendências, o que nos dá uma vantagem competitiva tanto na gestão interna quanto na definição de estratégias para os nossos clientes. 

2) Como a automação de tarefas repetitivas tem impactado o dia a dia dos advogados? 

A automação tem transformado o dia a dia dos advogados ao liberar tempo que antes era gasto em tarefas manuais e repetitivas. Com a automação do controle de prazos, do preenchimento de documentos e do monitoramento de publicações, os advogados agora podem se dedicar a atividades que realmente exigem sua expertise, como a análise estratégica de casos e o atendimento personalizado ao cliente. 

O impacto é claro: a tecnologia eleva o papel do advogado de um executor de tarefas para um estrategista, aumentando a produtividade e a qualidade do serviço em todo o escritório 

3) Quais desafios um escritório enfrenta ao implementar novas tecnologias? 

A implementação de novas tecnologias em escritórios de advocacia enfrenta principalmente três desafios: a resistência cultural da equipe, que muitas vezes prefere manter métodos de trabalho tradicionais; o custo financeiro, que vai além da licença do software e inclui o treinamento e a migração de dados; e, por fim, a preocupação com a segurança e a privacidade dos dados, um ponto crítico na área jurídica que exige a escolha de ferramentas que ofereçam garantias robustas de proteção de informações sigilosas. 

4) Ferramentas de IA podem ser usadas na prevenção de riscos e no cumprimento de programas de compliance? Quais exemplos já existem? 

Sim, as ferramentas de inteligência artificial (IA) têm se mostrado extremamente valiosas na prevenção de riscos e no fortalecimento de programas de compliance em escritórios de advocacia. A IA pode analisar grandes quantidades de dados de forma rápida e precisa, identificando padrões e anomalias que poderiam passar despercebidos por métodos manuais. No contexto de compliance, isso é essencial para garantir conformidade com regulamentações e mitigar riscos legais, financeiros e reputacionais. 

Exemplos práticos: 

  • Análise de contratos: Ferramentas de IA, como plataformas de revisão contratual baseadas em machine learning, identificam cláusulas de risco, inconsistências ou desvios de padrões regulatórios em contratos, reduzindo a probabilidade de litígios ou penalidades. 
  • Monitoramento de conformidade: Softwares de compliance integrados com IA monitoram transações e comunicações internas em tempo real, detectando comportamentos ou práticas que possam violar políticas internas ou normas externas, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil. 
  • Due diligence: Em processos de fusões e aquisições, a IA é usada para realizar due diligence automatizada, analisando históricos de empresas, processos judiciais e registros públicos para identificar potenciais riscos legais ou financeiros. 
  • Prevenção de fraudes: Algoritmos de IA podem detectar padrões suspeitos em dados financeiros ou operacionais, ajudando a prevenir fraudes ou desvios éticos antes que causem danos significativos. 

No Urbano Vitalino Advogados, por exemplo, estamos explorando ferramentas de IA que integram jurimetria e análise preditiva para antecipar riscos em processos judiciais e garantir que nossas estratégias estejam alinhadas com as melhores práticas de compliance. Essas tecnologias nos permitem agir proativamente, reduzindo a exposição dos nossos clientes a riscos legais. 

5) Como os escritórios estão treinando suas equipes para utilizar a IA de forma ética e eficiente? 

Os nossos treinamentos abordam tanto as competências técnicas quanto os princípios éticos, considerando a sensibilidade dos dados manipulados no setor jurídico. 

  • Capacitação técnica: Promovendo workshops e cursos práticos para ensinar o uso de ferramentas de IA, como plataformas de automação de documentos, análise de dados ou revisão contratual. Esses treinamentos são muitas vezes realizados em parceria com fornecedores de tecnologia ou especialistas internos. 
  • Formação em ética e LGPD: Dado o risco de manipulação de dados sensíveis, as equipes são treinadas em boas práticas de proteção de dados, com foco na LGPD e em diretrizes éticas, como a não discriminação em algoritmos de IA e a transparência no uso dessas ferramentas perante clientes. 
  • Simulações práticas: Utiliza caso prático ou simulações para que os advogados apliquem a IA em cenários reais, como a elaboração de peças processuais ou a análise de riscos, garantindo familiaridade com as ferramentas. 
  • Cultura de adaptação contínua: Como a IA evolui rapidamente, o escritório incentiva uma mentalidade de aprendizado contínuo, com programas de atualização regulares e fóruns internos para compartilhamento de experiências. 

No Urbano Vitalino Advogados, implementamos um programa de capacitação que combina treinamentos presenciais e online, com foco na integração das ferramentas de IA ao nosso software proprietário, o Knox. Além disso, promovemos discussões regulares sobre ética no uso de IA, garantindo que nossa equipe esteja alinhada com os princípios de transparência, segurança e responsabilidade exigidos pela profissão. 


Bruno Souza é Sócio do Urbano Vitalino Advogados, Diplomado em Direito pela Universidade AESO, concentra sua atuação na implantação de inovação e tecnologia na área jurídica. 

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