A tecnologia atual é uma coisa maravilhosa e possibilita a busca de grupos de interesse em tempo real sem nunca olhar na cara de outro ser humano, sem nem saber seu contato direto e ainda assim conseguir trocar diversos arquivos em todos formatos, informação atualizada em tempo real. Porém toda essa conectividade ao mesmo tempo que potencializa aproximações, otimiza distanciamentos. Explico.
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Na era da informação que vivemos, o bombardeio diário de mensagens cria um mar de dados que faz com que as pessoas se relacionem cada vez mais com seus smartphones e cada vez menos entre si, o que é muito prejudicial para a carreira jurídica, além da ansiedade digital causada.
Advogados são por excelência criaturas relacionais, e nada vai substituir uma conversa próxima, mas a nova leva jurídica tem tentado surfar a onda digital e se relacionar em grupos, por meio de sites especializados como o Linkedin ou mesmo em grupos de Whatsapp e Telegram. Claro que esses métodos são válidos e importantes, mas fazem muito pouco para criar alguma distinção e individualizar cada contato. Direto alguém me procura em um evento e me pergunta você que é o Benedito? Assustador quando a identidade virtual precede a presença real.
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Para mim, o Linkedin é uma excelente ferramenta de divulgação de conteúdo especializado, e sendo advogado, me parece o lugar ideal para divulgação de vagas do universo ao qual pertenço. E mesmo sendo um multiplicador, como tantos outros, quantas vezes não recebo o CV que deveria ser endereçado à uma mulher sem qualquer conexão comigo, muitas vezes errando meu nome? Centenas de vezes. Ou mesmo pedidos desesperados, sejam pessoais ou mensagens pré-formatadas? Desespero ou Preguiça? Não sei responder.
Ainda falando de Linkedin, é normal receber convites de advogados de todos os lugares, e meu critério de aceitação é razoavelmente simples: se tiver foto, contatos em comum, for do meu ramo ou conexo, a chance de aceitação é bem alta. Durante um tempo, mandava mensagens customizadas para quem me convidava, me colocando à disposição. Foram tão poucos os retornos, que desisti. Passei a fazer parte de diversos álbuns de figurinha corporativos, de contatos que nunca vão me responder a uma mensagem na grande maioria das vezes.
Por fim, o famigerado Whatsapp. Gosto de ajudar os colegas a divulgar suas vagas e oportunidades, e para isso criei uma Lista de Transmissão de Vagas Jurídicas para ajudar uma dúzia de amigos. Essa lista foi crescendo até chegar em um ponto que cada vaga compartilhada chega a travar meu smartphone, mas o retorno gentil de algumas pessoas fez com que valesse a pena o transtorno, ainda que não tenha sequer um dia que não apareça alguém desconhecido pedindo para receber as vagas. Será que é tão difícil perceber que em tempos de desmaterização dos meios, que uma mensagem, seja por email, Whatsapp ou Linkedin não é nada diferente de tocar a campainha da casa de um desconhecido ou ligar para alguém pela primeira vez? Situação onde primeiro se apresenta ao desconhecido para somente então informar o propósito do contato? Enviar um currículo a um total desconhecido é rude e invasivo e tem mínima chance de gerar qualquer resultado positivo, tanto quanto enviar um prospecto de escritório com um texto padrão. Mandar um contato estudado e pessoal vale mais do que mandar cem impessoais.
Esses são alguns pontos para reflexão. Antes de sermos digitais, precisamos voltar a ser humanos, pois não importa a mídia, e não importa o meio, a educação e a ética nunca vão desaparecer enquanto a interface prevalecer sendo feita por humanos de ponta a ponta. Especialmente no campo do Direito.
Benedito Villela é Gestor Jurídico, Professor e Palestrante. Quer conhecer mais artigos? Acesse https://www.falandolegal.org/.