Com a vacinação avançando, empresas de vários setores estão aos poucos avaliando qual forma de trabalho adotar daqui para frente e as adaptações necessárias. O modelo híbrido tende a ser uma opção popular, mas levanta questões que devem ser discutidas para que o andamento das atividades ocorra sem atritos. A decisão não é simples e deve ser tomada com muita diligência pelos gestores por afetar não apenas as operações, mas também o bem-estar e os planos profissionais de cada colaborador.
Como comentei em meu artigo anterior, é essencial que a volta aos escritórios seja feita com responsabilidade e com foco em pessoas. A Organização Mundial de Saúde já prevê que o Sars-CoV-2 se firme como um vírus endêmico, ou seja, que ainda vai circular por muito tempo, uma situação que deve ser considerada quando se fala em retomada. Neste cenário, o trabalho híbrido consegue aliar a flexibilidade na carga horária à troca produtiva que ocorre quando colegas interagem. Por isso, os departamentos de Recursos Humanos, em conjunto com as lideranças das empresas, passaram a reforçar suas políticas em prol da saúde ocupacional. Rotatividade de espaços de trabalho, revezamento de equipes no escritório e orientações para que colaboradores fiquem em casa caso apresentem algum sintoma são algumas das medidas preventivas que vem sendo implantadas. A chegada da variante Ômicron e a explosão de casos de influenza são argumentos extras a favor desse direcionamento.
Políticas que garantam a segurança e bem-estar nos escritórios são apenas alguns dos aspectos que devem ser incluídos nessas novas rotinas de trabalho. Do ponto de vista de carreiras, outras discussões começam surgir. Por conta da longa duração da pandemia e a adoção do trabalho remoto, é comum identificar pessoas que não moram mais na mesma cidade em que trabalham. Muitos colaboradores voltaram para os seus locais de origem para ficarem próximos de seus familiares, além de outras que buscaram casas maiores e/ou mais contato com a natureza fora dos centros urbanos. Com o trabalho 100% remoto, todos estavam na mesma situação e os processos internos eram iguais para quem trabalhava no interior de São Paulo e para o colega que se instalou em uma praia no Nordeste. Mas, agora, o escritório que decidir retornar ao presencial ou adotar o modelo híbrido de forma definitiva deve avaliar como lidar com cada caso de acordo com as necessidades de seus negócios. Será possível contar com um percentual de colaboradores atuando apenas de forma remota? O que deverá ser feito para reter esses talentos sem impactar o dia a dia de trabalho?
Pensando em longo prazo, o que deve ser feito para não prejudicar o plano de carreira de cada colaborador em formato remoto, principalmente aqueles que almejam posições de liderança? Como as empresas vão aplicar os mesmos critérios de avaliação para uma posição de sócio a um associado sênior trabalhando apenas de forma remota e um colega com disponibilidade para trabalhar presencialmente, mesmo que apenas alguns dias da semana? O que precisaria ser feito para que o processo se mantenha justo?
Na minha experiência como líder, o contato presencial sempre me proporcionou uma relação próxima com minhas equipes. Desde quando a pandemia começou, estamos nos adaptando com as ferramentas digitais para preencher com sucesso essa lacuna. Assim, conseguimos aproveitar os benefícios que a flexibilidade do modelo híbrido de trabalho traz, sem impactar o andamento dos negócios, como já estamos fazendo no Trench Rossi Watanabe. Esses aprendizados são essenciais neste novo cenário, em que os escritórios precisarão estar atentos ao que pode ser aprimorado, principalmente aqueles que decidam flexibilizar de acordo com a preferência de cada colaborador. Os gestores passam a ter a partir de agora um olhar mais cuidadoso em relação às peculiaridades no desenvolvimento de cada talento, para que seus objetivos caminhem lado a lado com a cultura organizacional da firma, sempre prezando pela transparência nas etapas que deverão ser cumpridas dentro dessa nova dinâmica de trabalho para atingir essas metas.
A adoção do modelo remoto foi feita em caráter emergencial e muitos processos foram implantados de forma temporária. Agora, os gestores precisam analisar o que de fato continuará e quais medidas devem ser tomadas levando em conta essa nova realidade. Em qualquer situação, o sucesso de cada empresa depende não apenas que o trabalho seja realizado normalmente e de forma segura, mas também que todos os colaboradores sintam que suas carreiras estão encaminhando de acordo com suas expectativas. Não existem soluções prontas nem definitivas. Cada situação vai demandar muita reflexão por parte dos líderes e as especificidades de cada firma.