A propagação de boas práticas dentro dos escritórios, assim como em todas as organizações que assumem seus papéis de protagonistas na construção de sociedades mais inclusivas, é realizada através da integração da responsabilidade social com a estratégica de negócio. Neste sentido, uma das ferramentas para a transformação dentro de uma agenda positiva é o pilar da diversidade inclusão: fonte permanente de combate às desigualdades que garante longevidade às organizações, através da diversidade em seu capital humano.
Nesta toada, para que os programas de inclusão sejam desenvolvidos e ferramentas de inserção da diversidade sejam criadas, políticas afirmativas devem ser implementadas. Todavia, tais medidas devem ser pensadas como verdadeiros mecanismos de combate às desigualdades que são. Suas finalidades devem ser respeitadas e não utilizadas como artimanha para manutenção do status quo, como ainda é feito em muitos espaços.
Por esta razão, quando falamos na verdadeira inclusão, não estamos falando a respeito da contratação direcionada apenas àqueles espaços ou funções que a sociedade, forçosamente, já encaminha a população historicamente discriminada e marginalizada. A inclusão deve ser pensada para toda a estrutura empresarial começando, inclusive, pelos cargos de alta gestão.
Ao contrário do que ainda é feito por muitos escritórios, a mudança não pode e não deve ser iniciada apenas pela base do quadro societário. Se não há valorização da pluralidade na liderança, não haverá garantia de representatividade, compromisso efetivo com práticas inclusivas e a estrutura empresarial não será capaz de receber ou manter a diversidade.
No mesmo sentido, é impossível desenvolver práticas de diversidade e inclusão, sem que sejam analisados os impactos que as discriminações causam nos indivíduos. Assim, é preciso que a raiz racista, classista, capacitista e cisheteropatriarcal deste país seja entendida. Para que, correlacionando essa cultura colonialista que ainda é mantida, tais questões sejam analisadas como problema de saúde pública.
Seguindo esta lógica, existe uma teoria chamada de “Minority Stress” (“Estresse de Minoria”) que avalia os impactos que as discriminações e as violências causam aos indivíduos pertencentes a determinados grupos sociais. Essa teoria, relaciona os estresses suportados pelas populações historicamente minorizadas, em razão das discriminações sofridas no decorrer da vida, ao aumento do risco em relação às suas saúdes física e mental.
Ela comprova que em razão destas discriminações, certos grupos de pessoas (e aqui ressalto os recortes de orientação sexual/identidade de gênero, raça e pessoas com deficiência) estão mais propensos ao desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão; consumo de substâncias – licitas e ilícitas – de forma abusiva e; maior risco de suicídio, quando comparados à população branca, cisgênera e heterossexual.
Então, não é à toa que jovens LGBTQIAP+ pensem 3 vezes mais e tenham 5 vezes mais chances de tentar o suicídio, quando comparados aos heterossexuais – conforme a pesquisa Oregon Healthy Teens Survey. Sendo que, de acordo com a revista científica “Pediatrics”, o risco de suicídio entre os jovens LGBTQIAP+ cresce 21,5% quando essas pessoas vivem em ambientes hostis à sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Corroborando com os dados do Ministério da Saúde, que apontam o suicídio como a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, pesquisa realizada pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) indica que o número de casos de suicídio cresceu 284% em um período de 02 anos, entre pessoas da mesma faixa etária.
Levando em consideração a estrutura colonialista que ainda é perpetrada no Brasil, não é surpresa que a cada 10 jovens (entre 10 e 29 anos) que cometem suicídios, 6 são autodeclarados negros. Sendo que em 4 anos, o número de casos subiu 12% e o risco de uma pessoa negra jovem cometer suicídio no Brasil chegou aos 45%, segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde.
Esta mesma estrutura faz com que sejam registrados diariamente cerca de 4 casos de suicídio de mulheres vítimas de violência dentro dos lares brasileiros. Sendo que esta passou a ser a principal causa de morte de mulheres em casa, com um aumento de 92% no número de casos, entre os anos 2000 e 2017.
Por estas razões, mister se faz que práticas de diversidade e inclusão sejam desenvolvidas não apenas a partir do reconhecimento da estrutura na qual este país fora lapidado, como também de maneira que acolham e trabalhem os impactos das discriminações de forma individual.
Em memória de Paulo Vaz (Popo Vaz). Homem Trans, ativista de Direitos Humanos, morto pelo sistema em 14 de março de 2022.