Importância dos grupos de afinidade para o público LGBTQIA+ em escritórios jurídicos

O mês de junho é também conhecido como o mês do orgulho, quando a população LGBTQIA+ celebra sua luta e suas conquistas, além de conscientizar a todos que ainda há muito a ser feito pela equidade social e profissional desse grupo. As empresas que se posicionam como apoiadoras devem se responsabilizar em proporcionar um ambiente inclusivo a esses profissionais por meio de iniciativas internas.

Uma frente importante de atuação é a instituição de grupos de afinidade dedicados a esse público. Convidei meu colega no Trench Rossi Watanabe, o associado sênior Marcel Nunes, para contar sobre sua experiência com a implantação do grupo de afinidade MOVE LGBTQIA+ do Escritório, do qual é um dos coordenadores. Espero que gostem!

Marcel, como foi a criação do grupo de afinidade?

Nosso Comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão já existe há mais de uma década, portanto, a minha proposta de criar o LGBTrench, em 2016, foi recebida de forma muito natural. Com o apoio também da administração, em dois dias marcamos nossa reunião inicial. Foi o primeiro grupo de afinidade do Escritório, o que não é comum por conta do receio que ainda existe de colaboradores em levantar essa bandeira.

Como funciona o grupo?

Nos reunimos uma vez por mês para discutir algum assunto voltado à comunidade e colaboramos com as causas de outros grupos internos. Realizamos ações que se estendem a todos os colaboradores e também fora do Escritório.  Em parceria com clientes, promovemos treinamentos para o público interno, focado na evolução dos direitos LGBTQIA+, marcos sociais e jurídicos relevantes, além de debates sobre a importância dessas práticas dentro das empresas. É pertinente dizer que os participantes não precisam fazer parte da comunidade. Somos um grupo bem diverso, que agrega diferentes visões e experiências.

Qual a dificuldade de implantar grupos de afinidade dedicados à população LGBTQIA+ no setor jurídico?

Por conta do conservadorismo muito presente no meio jurídico, apesar de o cenário ter melhorado nos últimos anos, é difícil encontrar pessoas confortáveis o suficiente para endereçarem essas questões e tomarem a iniciativa de criar os grupos. Por isso, é imprescindível que a gestão incentive um ambiente de respeito e acolhimento.

Como engajar colaboradores que não fazem parte desse perfil de diversidade?

Fugir do lugar comum. O colaborador não vai dedicar uma hora do seu dia para aprender algo acessível no jornal ou na televisão. Temos que pensar em atividades que não sejam maçantes e trazer assuntos do interesse de todos. Outro ponto essencial é deixar as pessoas participarem como elas se sentirem à vontade, mesmo que sem um engajamento mais ativo. Além disso, o envolvimento das lideranças, para incentivar a participação de todos, também é um ponto crucial.

Por que criar o grupo de afinidade e outras iniciativas de inclusão?

Pelo lado do colaborador, faz com que a pessoa se sinta confortável no ambiente de trabalho, sem rótulos e sem medo de sofrer qualquer represália por conta de sua orientação sexual. Os Escritórios precisam deixar claro que o colaborador não vai ter sua trajetória afetada por isso, e mostrar na prática que seu ambiente de trabalho fornece essa segurança. Pelo ponto de vista de gestão de pessoas, é importante pela retenção de talentos, pois um colaborador não ficará em um lugar em que não se sinta respeitado, até porque já existem muitas empresas que investem nessas iniciativas. Pensando em negócios, hoje os clientes não avaliam só preço e qualidade das entregas. Eles querem saber se seus prestadores de serviço estão alinhados aos seus valores e quais são as iniciativas em prol do bem-estar social que o Escritório trabalha, como, por exemplo, inclusão de minorias e até atividades pro-bono.

Como começar?

Qualquer iniciativa necessita de um engajamento genuíno das lideranças para conferir credibilidade ao projeto e incentivar o envolvimento dos colaboradores. O passo seguinte é conhecer seu público e quais minorias precisariam ser contempladas. A partir daí, basta começar a organizar os grupos, desenvolver as atividades e marcar as reuniões. Com o grupo interno bem estruturado, vale partir para iniciativas externas, como eventos e palestras para clientes, e considerar a associação a fóruns, como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTQI+, bem como outras ações de inclusão.

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