A realidade corporativa, em meio a um “novo momento” global, demanda ajustes profundos nos modelos de negócios e nas estratégias das organizações, de forma que investidores, conselheiros, executivos, dirigentes e consultores precisam entender as novas oportunidades, os novos riscos e as novas demandas.
Algumas “mudanças” são simples, sem custo, e necessitam apenas de vontade, para decisões e escolhas melhores; e podem/devem ser as primeiras a serem implementadas, mas no caso das mais complexas, que precisam ser melhor planejadas, que custam mais caro e que devem ser estruturadas, o caminho é “encarar com seriedade” – visando a melhoria (por iniciativa própria e de forma voluntária, enquanto é tempo).
E os departamentos jurídicos das empresas, bem como os advogados corporativos em geral, precisam estar atentos a esse cenário – para que consigamos apoiar as organizações de forma mais efetiva.
A “competição” que sempre existiu é cada vez maior e mais desafiadora, pois em todos os setores e segmentos existem cada vez mais “players”, necessidade de inovação e criatividade constantes, “redução de margens”, “gargalos”, e clientes/consumidores mais exigentes; além de regulações e normas crescentemente apertadas.
O que “sempre funcionou” e “sempre foi assim” já não é realista há muito tempo, mas os desafios “só aumentam”, de maneira que temos que ficar atentos, também às novas oportunidades – e possíveis “vantagens competitivas”.
Além dos “novos” temas econômicos e geopolíticos, como o retorno das guerras por território e as tensões “religiosas”, bem como dos “tarifaços”, dos novos acordos e realidades comerciais, e ainda dos “apagões gargalos” por insumos/suprimentos em geral, que estão afetando seriamente os planos das empresas, gerando novas matrizes de riscos, e novos acordos, mercados e estratégias, é preciso atentar para temas como “carbon accounting”, sustentabilidade corporativa plena, novas pressões e legislações ligadas a temas ambientais, sociais e no campo dos direitos humanos – e o caminho de cada empresa para não apenas sobreviver, como para gerar valor e ganhar dinheiro.
As “regras do jogo” mudam cada vez mais rapidamente, e encontrarmos maneiras para lidarmos com o trinômio riscos, demandas e oportunidades é constantemente mais desafiador – mas há caminhos.
O já citado tema do “carbon accounting”, muito debatido das COPs (como a COP 30, em Belém – Brasil), é um grande exemplo de “risco” que vale muito dinheiro, e que precisa ser encarado como uma enorme oportunidade de não apenas conhecer mais e melhor o seu próprio negócio, como de ser mais transparente e consciente, de buscar melhores práticas, e de ganhar dinheiro.
Assim como já não se pode conceber nem mesmo em exemplos “pequenos”, como reuniões, eventos, cursos e congressos, que não exista acessibilidade e mobilidade, não exista sinalização e “tradução” inclusiva e acessível, efetiva preocupação com a redução do consumo de energia elétrica, de àgua e de produtos derivados de origem fóssil, também não se pode admitir a falta de cuidado com alimentos e bebidas não saudáveis (ultraprocessados, artificiais, fritos, com corantes não naturais, com excesso de açúcar e sódio, gorduras que afetam a saúde etc), falta de cuidado com a geração e o adequado destino dos resíduos, a efetiva reciclagem, o uso de produtos descartáveis não biodegradáveis, e sem rastreamento, a falta de informações sobre “carbono”, e de certificação sobre o cumprimento dos cada vez mais rígidos compromissos mínimos com a sustentabilidade – dentre vários outros itens importantes. E a questão do “carbon accounting” tem que ser inserida nessa pauta.
Já não se pode entender organizações (bem como eventos, seminários/congressos, cursos, palestras, reuniões, feiras e exposições etc.), mesmo que sejam apenas escritórios, que não conheçam, e que não divulguem a sua própria emissão/geração de carbono – e que não sejam conscientes e responsáveis para compensar, neutralizar e reduzir.
Essa é apenas a “ponta do iceberg” no contexto das questões climáticas, das catástrofes cada vez maiores, mais impactantes e mais frequentes, que afetam a todos e de todas as formas, com danos humanos e sociais, econômicos, de infraestrutura, e que tem ditado mudanças profundas na operação e nos planos das organizações.
“Esse tema” vale muito dinheiro, e não apenas pelos danos, prejuízos e riscos (que em muitos casos já não são nem mesmo “asseguráveis” – uma vez que as seguradoras, de forma geral, vêm revendo seus conceitos, riscos, apólices etc.), como pela urgente busca por alternativas, ajustes na produção, na forma e no local das operações etc.
E temos que destacar, também, o aspecto de oportunidade, uma vez que as altas emissões de carbono precisam ser reduzidas, mas também compensadas e neutralizadas, por razões econômicas, mercadológicas, de consciência, de responsabilidade – e por demanda dos mercados, das cadeias produtivas, dos clientes e dos consumidores.
As empresas, os eventos, as operações que geram muita emissão de carbono precisam ser revistas, mas em paralelo e “enquanto isso”, o tema segue urgente e demandando muita atenção, de forma que todos temos que encontrar maneiras de ajudar – e quando possível de gerar valor.
No campo da agropecuária, da produção mineral, das florestas, de áreas desmatadas e degradadas, do papel e da celulose, da energia e em tantos outros, pode-se gerar muito dinheiro justamente atuando na neutralização, no reflorestamento, na recuperação de áreas, na reconstrução de fauna e de flora nos mananciais e nas nascentes etc.
O grande tema dos mercados de carbono e dos créditos, ainda está em construção, nacional e internacionalmente, mas já há muito a fazer, com muitas oportunidades de investimentos com enorme oportunidade de retorno, e mesmo de venda para compensação, e os departamentos jurídicos e os advogados precisam estar preparados, atualizados e operantes para proativamente apoiar as organizações a identificar caminhos.
Ainda existem organizações que não atualizaram suas matrizes de risco, e que não se organizaram para lidar com o tema do carbono (perdendo muito dinheiro e desprezando fontes de receita), bem como tantas outras que não estão nem mesmo atualizando suas pautas de assembleias gerais, programas de governança corporativa, de compliance e de sustentabilidade, reuniões de diretoria, e mesmo o novo perfil de conselheiros e consultores que agora se necessita.
E o mesmo temos que salientar para práticas sociais e ligadas aos direitos humanos, como preconceitos e discriminações, não acolhimento e não inclusão, trabalho infantil, trabalho análogo ao escravo, etarismo etc. – que em muitos casos são, inclusive, crime.
Essas questões são tão importantes, atuais e impactantes nos negócios e nas operações, que todas as organizações, em todos os segmentos, de todos os portes, e em todas as localizações precisam incluir o tema em seus modelos de operações e de negócios, nas estratégias, nos planejamentos e em suas práticas, como mencionamos acima – mas temos que ajudá-las a entender todo esse contexto.
Na mesma linha, temos que entender que as questões da chamada pauta de sustentabilidade corporativa plena (ou E-ESG) não é nem modismo nem ideologia, e nem mesmo passou ou passará, pois é a realidade mundial e empresarial em toda parte (apesar das pressões contrárias e de movimentos equivocados que tentam polarizar alguns aspectos do tema).
Esse aspecto é profundamente impactante na vida de todos nós, nas nossas atividades e nas organizações, de maneira que não se trata de gostarmos ou não do tema, e nem mesmo de sermos favoráveis ou contrários, pois são fatos – cada vez mais urgentes, que valem (também) muito dinheiro – seja pelas perdas e pelos danos provocados, seja pelas oportunidades de receita.
Algumas organizações talvez tenham se “apressado”, e iniciado campanhas e/ou projetos muito “simplistas”, com casos de “bandeiras” que na prática “desfocavam” os temais principais, demandando alguns ajustes e “reorganizações” de programas; mas conscientes de que essas questões precisam estar no “radar”, na pauta, na estratégia e nas práticas das organizações.
Legislações, novas regulações e regulamentações, pressões geopolíticas, de blocos econômicos, e de clientes e consumidores mais exigentes, bem como de governos, de financiadores e de investidores estão “chegando” e crescendo nesse tema; e todos temos que nos antecipar ao que “virá”; apoiando as empresas e ajudando a encontrar e a escolher “caminhos” de evolução, de melhoria e de ajustes (por vezes profundos, que demandam planejamentos detalhados e organizados).
Temos que unir esforços, conhecimento, experiência e ação, para melhorarmos nossas próprias práticas e organizações, e para melhor ajudarmos e apoiarmos as empresas.


