O papel das empresas em promover uma sociedade mais igualitária está cada vez mais evidente. Com as demandas por adoção de práticas ESG surgindo no mercado, promover a diversidade no ambiente corporativo, incluindo a racial, é uma questão que deve estar sempre na pauta da gestão. Em um país como o nosso onde, de acordo com o IBGE, mais da metade da população se autodeclara negra, mas menos de 3% de mulheres e homens negros alcançam cargos de diretoria ou gerência, o tema é ainda mais urgente. No setor jurídico não é diferente.
Já existe, há alguns anos, um movimento entre os escritórios pela inclusão racial, que foca no investimento de parcerias com universidades e organizações para incentivar ambientes mais diversos. Um dos exemplos é a Aliança Jurídica pela Equidade Racial, da qual o Trench Rossi Watanabe faz parte junto de outras grandes bancas, assim como o Incluir Direito, projeto liderado pelo Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA), que visa a capacitação de pessoas negras para que sejam competitivas no mercado de trabalho.
Os processos seletivos também estão em evolução e são essenciais para promover essa inclusão. Internamente, firmamos uma parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares para a seleção de estudantes negros para nosso programa de estágio sazonal, flexibilizamos a exigência do inglês para públicos de diversidade – e disponibilizamos subsídios para cursos do idioma nesses casos, além de termos abolido a exigência de formação em universidades mais tradicionais. São formas de atualizar políticas que, por muito tempo, foram mandatórias em escritórios tradicionais, mas que acabavam excluindo muitos talentos, incluindo candidatos negros.
Porém, é importante que as iniciativas para incentivar a participação dos profissionais negros no mercado jurídico vá além das políticas de recrutamento e parcerias externas. O próximo passo é aprimorar processos dentro dos escritórios para implantar um plano de carreira assertivo, que apoie os talentos negros durante suas trajetórias em cada firma. Os gestores precisam ter um olhar mais atento para identificar o que pode prejudicar o desenvolvimento profissional, consequência da falta de acesso a oportunidades que pessoas com perfis de vulnerabilidade sofreram durante sua vida por conta da desigualdade social.
É fundamental saber onde estamos para definir onde queremos chegar. Para isso, iniciativas como um Censo de Diversidade interno são necessárias. Trabalhar com dados permite que sejam traçadas metas efetivas para aumentar a representatividade de grupos minorizados e saber que áreas precisam de mais esforços para se alcançar os resultados desejados. No Trench Rossi Watanabe, nosso Comitê de Diversidade, Equidade & Inclusão trabalhará com os dados de nosso último censo, realizado no final de 2021, para apoiar cada grupo de prática com as ações necessárias para aumentar a representatividade de grupos vulneráveis, em especial, pessoas pertencentes ao pilar étnico-racial.
Mentorias e subsídios a cursos de aprimoramento são alternativas que valem ser consideradas e que já começam a ser implantadas. Afinal, todos têm metas de carreira. A maioria dos advogados quer alcançar posições societárias ou administrativas, e as lideranças são as responsáveis por promover um ambiente de trabalho com as condições necessárias para isso, em pé de igualdade com os colegas de perfis mais privilegiados.
Não é uma tarefa simples e deve ser feita com acuidade entre gestores diretos, o RH e até o departamento financeiro, já que são procedimentos que podem exigir alocação de recursos para serem implantados e precisam estar alinhados com todos os departamentos. Além disso, envolve também uma mudança na cultura da empresa, que deve incentivar cada vez mais ações afirmativas e educativas focadas em diversidade que se estendam a todos os colaboradores, promovendo um ambiente mais acolhedor e inclusivo para todos.
O pontapé inicial para aumentar a presença de negros na área jurídica já foi dado, mas ainda precisa ser aprimorado para, de fato, afirmarmos que fazemos parte de um setor racialmente diverso. Os escritórios que incorporarem efetivamente essa prática só têm a ganhar – assim como seus colaboradores.