O papel da liderança no desenvolvimento dos talentos no mundo híbrido

Os dilemas e conflitos sobre gestão de pessoas no “pós pandemia”

Voltei ao trabalho presencial no início de março, seguindo o modelo híbrido proposto, e a minha adaptação tem sido positiva. Eu nunca me enquadrei ao perfil de quem temia a volta ao escritório. Mas, como disse na minha coluna de janeiro, depois de tanto tempo no virtual, seria difícil imaginar uma mudança em que eu não pudesse ficar com o melhor dos dois mundos – o retorno ao olho no olho, os relacionamentos, os almoços, as interações em reuniões, o cafezinho, mas também com a oportunidade (ou até mesmo privilégio) de trabalhar de forma remota, aproveitando as benesses da tecnologia, do conforto do lar, de levar os filhos à escola e de estar à espera deles no retorno para casa.

Ainda que recente, tenho considerado estes dois universos algo mandatório e que preciso, como líder e profissional de Recursos Humanos, fazer a minha parte. Claro, que não é a condição de todo profissional, empresa ou função, mas aproveito o espaço para fazer um manifesto: precisamos persistir, antes de desistir do modelo híbrido.

Como gestora de RH, liderando projetos de gestão de pessoas e, agora, iniciativas sobre as novas formas de trabalhar, tenho me deparado com os dilemas de fazer gestão de pessoas no mundo híbrido. De um lado, temos profissionais sedentos por mais diálogo, empatia e flexibilidade e, por outro lado, líderes com dificuldade de entender a eficácia da gestão com a nova rotina que o mundo híbrido impôs.

Voltemos a essência. Fazer gestão de pessoas nunca foi fácil e sempre exigirá dedicação de tempo e disponibilidade para desenvolver, individualmente, os talentos: nas conversas, nos feedbacks, na delegação, na autonomia, no acompanhamento, na celebração e no reconhecimento. E no mundo híbrido, tudo isso ganhou ainda mais importância. Ninguém precisa ir ao trabalho e estar só de corpo presente, é necessário estar genuinamente presente para ouvir, trocar, integrar e pertencer. É preciso estabelecer conexão. Um bom gestor é aquele que te conhece, que te oferece uma plataforma de desenvolvimento, que te representa e, sobretudo, aquele que coloca na agenda o tema “gestão de pessoas”. E isso, convenhamos, dá para fazer no virtual ou no presencial.

Meu lema tem sido: estar no escritório tem sido importante para o meu papel como gestora, assim como venho me programando para fazer deste momento o melhor para mim e para quem trabalha comigo. Mas por outro lado, encontro em minha casa a concentração para escrever esta coluna, me organizar, fazer encontros virtuais e coisas que pouco dependem de interação física.

Ainda estamos aprendendo e é preciso um tempo para qualquer conclusão. Ninguém sabe exatamente o que é certo e para hoje, temos apenas opiniões precipitadas. Reaprender juntos requer segurar os receios, as expectativas, a ansiedade e, acima de tudo, achar o equilíbrio entre os dois mundos. Alguns se sentirão melhor no escritório; outros em casa, mas todos terão que ceder como profissionais para a construção de uma boa cultura organizacional e um ambiente de trabalho saudável.

Ouvi estes dias em um papo sobre cultura e EVP (Employee Value Proposition*): “precisamos trabalhar para que as pessoas fiquem na organização por convicção e não por conveniência”. E é exatamente assim que penso!

Continuemos trabalhando, gerindo e entregando resultados, mas com a premissa de sermos exemplo nos cuidados com o bem-estar. Não tem empresa de sucesso (ou gestão bem-sucedida) que seja sustentável sem que estas duas coisas andem juntas: performance e bem-estar. É preciso enxergar além, inovar, buscar formas para que a gestão de pessoas seja um diferencial e que os novos modelos só contribuam para um melhor equilíbrio vida-trabalho. Afinal, ninguém mais quer ficar só no trabalho, renunciar da sua vida pessoal e social e, neste sentido, no mundo atual repleto de incertezas, a possibilidade de trabalho remoto tem sido essencial.

Posso supor também que, mesmo com todos os programas e iniciativas, provavelmente, os profissionais continuarão saindo das organizações por falta de gestão, liderança, reconhecimento e oportunidade de desenvolvimento. Isso é prova que, ainda que desafiadora, a gestão é um caminho sem volta.

* Employee Value Proposition é um pacote exclusivo de ofertas e valores que tornam a organização única no mercado e permite atrair, desenvolver e reter os melhores talentos

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