Sabemos que, para atuar no mercado jurídico, a negociação é uma ferramenta fundamental. É ela quem permite entender os interesses das partes e chegar a um meio termo factível para ambas, reduzindo danos e solucionando conflitos.
Nossa convidada de hoje é Louise Medrado Didier: advogada, pós-graduada em direito e processo do trabalho e com MBA em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral. Louise é sócia da Impact Legal Performance, consultoria de gestão e performance com foco na área jurídica.
- Na sua opinião, quais os benefícios de adotar técnicas alternativas de resolução de conflitos, como a negociação?
Quando analisamos as técnicas de negociação no âmbito judicial, os benefícios são variados, pois dependem dos objetivos estratégicos de cada empresa e/ou parte. O principal deles, que se almeja por meio das técnicas de negociação, é o encerramento de um conflito com satisfação positiva para ambas as partes.
Do ponto de vista do autor de uma ação, sem dúvida, o principal objetivo é a antecipação de um crédito que, na maior parte das vezes, ou demandaria tempo para ser resgatado, ou correria o risco de sequer havê-lo. De forma secundária, outro grande ganho é a resolução de obrigações de fazer, que, por serem mais complexas e burocráticas, as negociações viabilizam um acerto de forma mais fácil e rápida. Nestes casos, o valor agregado a uma negociação é ainda maior, pois a composição visa um olhar humanizado para resolução daquele conflito, aproximando empresas e autores em diálogos quase sempre vantajosos para ambas as partes.
As técnicas de negociação visam uma comunicação assertiva e não violenta, o que permite desvendar quais são os interesses e necessidades por trás daquilo que está exposto no processo, viabilizando a resolução de um conflito de forma positiva.
Do ponto de vista da empresa, na condição de réu, o principal ganho é a economia financeira. A bem da verdade, conduzir um processo judicial não é barato, envolvendo custos diretos e indiretos, muitas vezes elevados.
Por meio da negociação, é possível também entender os interesses do outro lado e alcançar uma zona de possível acordo em que se almeja um valor factível para as partes acordarem, diminuindo o valor de risco daquele processo e evitando a majoração da condenação, seja por decisões futuras, seja pela própria correção monetária do processo.
A adoção dessas medidas ainda representa uma postura empática com os stakeholders, fortalece a transparência e contribui para a construção de uma boa imagem social, humanizada e consciente.
2. Analisando os trabalhos realizados pela Impact, quais os principais desafios enfrentados na negociação?
Ao iniciar um projeto de negociação, observamos alguns desafios a serem superados, que não se limitam somente ao contato com a outra parte e ao convencimento em relação a um possível acordo. Os entraves que encontramos são numerosos quando damos início a este tipo de projeto, como por exemplo:
- Revisão e atualização de cálculos da empresa de acordo com o risco do processo;
- Equação entre valor de risco do processo e valor provisionado para identificar a zona de possível acordo (ZOPA);
- Alinhamento de pagamento de acordos com fluxo de caixa da companhia;
- Análise de risco de precedentes x oportunidade de economia financeira;
- Alinhamentos de obrigações de fazer, além do pagamento;
- Abordagem empática e comunicação assertiva.
3. Como avalia a evolução e a maturidade do jurídico antes e depois do processo?
Infelizmente, ainda há no país uma cultura jurídica muito voltada ao litígio. No âmbito trabalhista, por exemplo, em muitos casos o colaborador busca fontes complementares de renda por meio do ajuizamento de ações, os escritórios de advocacia lucram ao defender as empresas na Justiça, e os departamentos jurídicos acatam a assunção do risco. Na maioria dos casos, são processos morosos e sem perspectiva de êxito.
Quando o jurídico gira essa chave, a evolução é expressiva. Em vez de gastar tempo e recursos em litígios improdutivos, o foco passa ser mais proativo e em direção a reduzir a quantidade de ações e seus impactos financeiros.
4. De que forma a nova configuração do jurídico pode contribuir com os objetivos de cada empresa?
Sob esse novo paradigma, os jurídicos podem reduzir o passivo judicial, reverter provisões e economizar com o contencioso, o que impacta positiva e diretamente as finanças corporativas. Além disso, as companhias também ganham em consciência social, uma vez que a resolução alternativa de conflitos é uma prática alinhada com o “eixo S” (social) do conceito de ESG.
5. Como uma organização pode diagnosticar a necessidade de investir na negociação e como essa ferramenta pode impactar as diversas áreas e o negócio de uma empresa?
Antes de tudo, é preciso realizar um diagnóstico preciso sobre o conjunto de ações judiciais em curso envolvendo a empresa, bem como analisar o histórico de vitórias e condenações e os efeitos gerados por esse cenário na companhia, como financeiros e de imagem, citados anteriormente. Portanto, dados são essenciais e devem indicar o caminho a ser seguido. Porém, para extrair e interpretar devidamente essas informações, é preciso investir em tecnologia apropriada para fazer uma leitura correta da situação, bem como em profissionais qualificados e aptos a dar utilidade e gerar valor a partir dessas descobertas.