E-ESG demanda vigilância constante de nossas (próprias) atitudes e práticas

Um dos grandes desafios da sustentabilidade corporativa plena é compreender que os resultados esperados dependem de transformação de cultura, de critérios para escolhas, e de prioridades, de forma que existem tanto questões relativamente simples e corriqueiras (em geral sem custo financeiro) quanto maiores, mais complexas e que demandam investimentos.

E vários pilares do E-ESG precisam ser baseados em nossas atitudes individuais/pessoais, no trabalho, em casa, na família, na sociedade e na vida em geral – o que também precisa ser estimulado pelas empresas.

Passarmos a tomar cuidado com as nossas próprias ações (bem como de nossas equipes/ famílias), hábitos e escolhas é um passo importante e ao qual não dedicamos a devida atenção, como por exemplo deixarmos de viver o consumismo, de comprar produtos de fornecedores que não sejam de fato sustentáveis e comprometidos, utilizarmos muito plástico e combustível fóssil de forma geral, utilizar palavras e expressões inadequadas, “cortarmos” a fala das pessoas (interrompendo, por exemplo), cuidar do nosso condomínio, da rua e da cidade (com foco em questões sociais e ambientais), fomentarmos a reciclagem e a economia circular, não trabalhar com/para certas empresas etc.

A presença constante do E-ESG no contexto corporativo tem favorecido a difusão das melhores práticas nas organizações, e observa-se mais congressos e seminários, palestras, livros, cursos, propostas de certificações, matérias, publicações, entrevistas etc. – o que é bastante positivo. Percebe-se, porém, de outro lado, que nem sempre todos nos damos conta de que essa “mudança” de posturas, de condutas, de hábitos e de atitudes, de práticas e de escolhas é extremamente profunda, e que demanda vigilância constante.

Todos nós, temos que nos “policiar” o tempo todo, em tudo – até que a evolução de fato ocorra e se torne o “novo natural”!

Temos que admitir que estamos propondo e fomentando uma grande “revolução” de hábitos, crenças e costumes, que precisam ser “melhorados e transformados”, e em vários pontos “desconstruídos”. Ou seja, precisamos de uma “contracultura”, e de um grande movimento que não é natural. E que não avançará “sozinho”.

A humanidade viveu (até aqui) sem respeitar e acolher, sem se preocupar com direitos humanos e sociais, com as sensibilidades e dores das pessoas, , com igualdade de oportunidades, com o meio ambiente, e mesmo com o que de fato seja evolução – desconsiderando o que somente nos últimos anos se percebe como pilares fundamentais da vida em sociedade (e neste Planeta).

O caminho não nos parece ser nem o da premiação e dos aplausos a quem já conseguiu evoluir, e está fazendo escolhas melhores, e praticando o “certo”, nem o da crítica permanente ou da quase “execração” de quem ainda não conseguiu melhorar. Temos que evitar e até fugir dessa “polarização”, que em muitos países está se tornando inclusive partidária, buscando a conscientização e sempre estimulando (ao invés de apenas punir).

A comunicação não violenta, a informação/conscientização, o acolhimento, o respeito, e a busca conjunta das melhores práticas e escolhas precisam prevalecer, o que exige muito esforço, trabalho, resiliência, compromisso, treino e vigilância.

Certos hábitos e práticas foram disseminados “aos 4 ventos” por tanto tempo, que muitas e muitas gerações de pessoas foram “formadas, orientadas, ensinadas e treinadas” para uma determinada cultura, um determinado modo de vida, que em geral reproduzia e “perpetuava” falta de consciência ambiental e social, preconceitos e discriminações, desperdícios, escolhas erradas etc. – sem considerar efeitos, impactos e externalidades das próprias ações e escolhas. Temos que ser firmes nessa “quebra de inércia” e contracultura, em conjunto; e transformar todo esse contexto é uma questão “de folego”.

Estarmos discutindo todas essas questões, procurando aprender a viver de uma forma melhor, a adaptar os negócios e as organizações para que façam escolhas melhores e sejam melhores, e fomentando essa “revolução” é muito positivo, mas não é suficiente; sendo preciso “chegar às pessoas (todas).

Reiteramos que precisamos mudar (de início) a nós mesmos, inclusive no tocante a hábitos e a atitudes que nem percebemos estarmos errando, como seguir consumindo sem critério, ou proferir comentários, frases, palavras e expressões erradas; sem cuidado com a maneira como nos comunicamos. Temos que policiar nossos exemplos, além de nos vigiarmos, para evitarmos possíveis agressões e ofensas (ainda que nem se perceba – magoam e ofendem), “cortes” de falas das pessoas, exemplos inadequados, repetição de hábitos etc.

Seja nas organizações em geral, seja nas entidades de classe, nas consultorias, na academia, nos escritórios, nos condomínios etc., os desafios para vivenciarmos as melhores práticas E-ESG são constantes; e não nos damos conta deles, e do nosso próprio papel. Temos que conseguir implementar o “Walk the talk”, por mais desafiador que seja.

Transformar cultura é possível e necessário, mas é igualmente desafiador e complexo, em especial no tocante ao nosso “modo de vida”, ao nosso “jeito de ser e de viver”, que em muitos casos pode fazer parte de toda a nossa trajetória, da nossa forma de agir, e em certa medida de nossa personalidade. E de uma forma tão profunda e ampla, que nem sempre nos damos conta de que a vigilância precisa ser permanente.

Verificamos que até mesmo em “eventos” para discutir as melhores práticas E-ESG, por vezes não há o efetivo cuidado com o meio ambiente, com a mobilidade e acessibilidade, com o acolhimento, a diversidade e a inclusão; e mesmo entre “nós palestrantes e professores” (por sermos obviamente também imperfeitos e em evolução) também cometemos erros; que precisam ser apontados e corrigidos”. O esforço é coletivo, e temos que nos ajudar.

É positivo estarmos aprendendo a identificar o que precisa ser mudado, o que já não se pode mais praticar e nem aceitar, de forma que todos “nos policiamos e precisamos nos ajudar reciprocamente em todos esses aspectos.

Precisamos contar ainda com uma “rede” de apoio e de evolução, nas nossas vidas profissionais e pessoais (colegas, familiares, parceiros), que nos apontem onde melhorar e corrigir (inclusive “deslizes”), para que juntos fomentemos o crescimento, ajudemo-nos vigiar nossos próprios passos, posturas, escolhas, “falas”, promovendo a comunicação não violenta e as escolhas cada vez melhores.

Mesmo pessoas mais conscientes, e que de fato se proponham a evoluir, tem limitações e imperfeições, e cometem erros, de forma que precisam (precisamos todos) “policiar-se” o tempo todo, e contar com os “toques” de quem estiver por perto e quiser ajudar; pois a todo momento corremos o risco de aplicar uma palavra errada, de um movimento equivocado, de uma prática inadequada, de uma escolha errada, e nem sempre percebemos esses erros – por vezes até em função de descuido, pressa ou falta de atenção. O “trabalho” precisa ser permanente – e em equipe!

E-ESG demanda coerência e vigilância, em todas as situações, e realmente “não é fácil”, e até que a sociedade inteira de fato evolua e corrija antigas práticas, condutas, escolhas, posturas, comportamentos e “falas”, temos que nos esforçar sem “relaxar” jamais.

Passamos “da fase” de apenas reclamar ou “apontar os dedos”, bem como de criticar, pois essas atitudes não apenas não ajudam, como não constroem, e por vezes podem ser até agressivas e gerar reações; sendo preciso unirmos forças e esforços de forma positiva e construtiva.

Este autor, em especial, acredita muito nisso, e conta com toda a comunidade leitora, com seus parceiros, e com todos que acreditam na evolução da sociedade, para receber sempre sugestões, recomendações, toques, críticas e “puxões de orelha” quando necessário, pois nem sempre percebemos as nossas falhas sozinhos – e temos todos que nos ajudar a evoluir.

Acreditamos que a evolução da sociedade como um todo (e do Planeta), somente será alcançada se todas as pessoas de fato se conscientizarem, se policiarem, e se ajudarem, buscando a construção e não as meras críticas, reclamações ou polarizações! Sigamos juntos, e de forma positiva, construtiva e evolutiva.

Leonardo Barém Leite é sócio sênior do escritório “Almeida Advogados” em SP, especialista em Direito Societário e Contratos, Fusões e Aquisições, Governança Corporativa, Sustentabilidade e ESG, “Compliance”, Projetos e Operações Empresariais, e Direito Corporativo; também é árbitro, professor, conselheiro, e autor de diversas obras. Presidente da Comissão de Direito Societário, Governança Corporativa e ESG da OAB-SP/Pinheiros.

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