Iniciamos nossa jornada sobre tapetes vermelhos, trajados em roupas impecáveis, e, ainda na faculdade, acostumamo-nos com o título de “Doutor”, mesmo sabendo que ele não é nosso. Mas, ao contrário de César, não temos ninguém para gritar em nossos ouvidos: “lembra-te que és homem”. Esse papel cabe ao tempo, que nos expõe às grandes dificuldades e aos aprendizados necessários para viver a vida como ela é, como diria Nelson Rodrigues.
Aprendemos, desaprendemos, nos adaptamos e nos especializamos. De repente, um organismo vivo chamado empresa nos absorve, capturando um pouco do nosso DNA e deixando em nós um pouco do seu. Começamos então uma jornada que vai além da formação acadêmica; somos forjados para, quem sabe um dia, sermos líderes, talvez até executivos.
A forja nos torna resistentes à pressão e nos confere a habilidade de tomar decisões rápidas e precisas. Aprendemos cedo o princípio de Pareto e, mesmo sem associar o nome ao conceito, o aplicamos constantemente. No entanto, essa mesma forja que nos endurece também exige uma maleabilidade sofisticada para lidar com colegas, parceiros, clientes e lideranças.
Descobrimos que falar apenas sobre Direito não basta. Precisamos ter um conhecimento intermediário em outras “línguas” como finanças, operações, planejamento, marketing e afins. A forja nos pesa, revelando que, cada vez mais, a balança do tempo inclina-se para o profissional em detrimento do pessoal.
Derrubamos, ou deveríamos derrubar, os dogmas acadêmicos: advogado não sabe fazer conta, não pode errar, nunca diga que não sabe, discuta até vencer… O brilho se desloca para outras dimensões, não apenas para o contrato e o processo. As competências aumentam exponencialmente, e jamais deixamos de aprender.
A teoria do depende não se sustenta mais e o “não pode” sem justificativa se tornou insubordinação. O advogado, forjado na loucura, precisa se reinventar, negociar consigo mesmo e entender que o terno e gravata e o linguajar difícil, brilhantes no passado, não mais garantem o lugar à mesa, o lugar ao sol.
Falando assim, parece que apenas um louco aceitaria de bom grado essa posição. Mas, afinal, o que seria do mundo sem os loucos de todo gênero?
Há quem nos chame de loucos ou há quem diga que somos apaixonados, fãs, partidários, que gostam muito de alguma coisa e são movidos pela paixão em agir para resolver problemas, ao mesmo tempo que garantimos segurança em resultados excelentes, como um orgão vital que se conecta e faz funcionar esse grande organismo chamado empresa.