A ética, esse conceito tão profundo quanto ignorado, cujas definições dão para filosofar…
Será que a ética é única ou universal e todo mundo entende a mesma coisa quando se fala dela? Ou trata-se de um conceito pluriversal, definido pelos valores de cada um? É uma ideia estática ou dinâmica?
E a ética empresarial ou corporativa: Todos entendem o mesmo quando se fala nela?
Alguns, apoiando-se em teorias de economistas como Milton Friedman (Universidade de Chicago), afirmam que, para fazer negócios, a ética não tem cabimento se não o lucro e que a missão da empresa consiste em maximizar os benefícios para seus acionistas. A ética corporativa, então limita-se a cumprir com a lei e com as normas do mercado.
Mas hoje existem iniciativas diversas no mundo que convidam as empresas para considerar e precaver externalidades negativas para seus stakeholdes (não só seus acionistas) nos seus planos de negócios, assim como para desenvolver estratégias que incluam cada vez mais os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e metas de ESG.
Paul Paulman nos pergunta diretamente: “Se o mundo é um lugar melhor, por que nossa empresa existe?”. O que responderemos? Que nossa empresa tem uma compliance robusta e que isso é suficiente?
Qual é a diferença entre ética empresarial e compliance?
A ética corporativa é um conjunto de valores morais que a empresa adota e que devem ser seguidos por todos os que trabalham nela. Começa pelo cumprimento da lei, mas vai além disso… Um ato pode não ser contrário à lei, mas pode ser contrário à ética. Tais valores devem ocupar todos os níveis da empresa, mas particularmente, devem estar presentes nas deliberações e nas decisões do Conselho de Administração. Ou seja, na governança, na “G” do ESG. É aqui que a ética tem seu lugar.
Já o Compliance significa cumprir com as normas jurídicas gerais e as particulares aplicáveis ao tipo de atividade econômica que a empresa desenvolve. Exemplos claros são o compliance criminal, tributário, anticorrupção, antitrust, dentre outros.
Sua empresa pratica o compliance quando tem uma ouvidoria, para que as pessoas denunciem atos contrários à lei (ou à ética). Sua empresa atua eticamente ou não, dependendo do que ela faz com as denuncias recebidas.
Ter os riscos do seu negócio mapeados devidamente está de acordo com o compliance. Administrar eles adequada e responsavelmente, reflete uma conduta ética.
Ter políticas contra assédio moral e sexual responde às demandas do compliance. Fechar os olhos ante os comportamentos de alguns colaboradores da empresa, revela uma falta ética.
Não podemos cair no erro de confundir ética com altruísmo, já que não são o mesmo. A ética também não é contrária ao legítimo objetivo de criar valor para os acionistas. Muito pelo contrário, a ética é o elemento que permite aos conselhos de administração distinguir entre criar valor de corto, mediano ou de longo prazo para seus acionistas, clientes, colaboradores, fornecedores e demais stakeholders, assim como proteger a reputação da sua empresa. A ética é parte fundamental da governança.
No ano de 1833 apareceu uma publicação pouco conhecida do matemático William Foster Llod (1794-1852). Ele continha a descrição da famosa „Tragedia dos Comuns “. Trata se de aquela situação na qual indivíduos, motivados exclusivamente pelo seu interesse pessoal acabam sobre explorando um recurso limitado que compartem com outros indivíduos. Eles não fazem nada proibido pela lei. Mas também não fazem o que ético e isso tem consequências desastrosas. Nosso mais claro e atual exemplo é a mudança climática que ameaça com acabar com a raça humana e com suas empresas.