O pilar social do ESG, focado nas questões de diversidade e inclusão, está na pauta em todos os setores da economia. Sob a perspectiva de negócios, os resultados apontam que empresas com programas consolidados de diversidade e inclusão aumentam seus ganhos financeiros, alavancam sua reputação e melhoram performance em inovação e transparência.
No recorte de gênero, entretanto, a diversidade vem se revelando um desafio para o mercado jurídico, em especial para os escritórios de advocacia. No Brasil, mercado que representa cerca de 150 bilhões de reais por ano, as mulheres advogadas estão nas bases das bancas e na condução de determinadas práticas jurídicas, porém distantes ainda dos cargos de alta liderança.
Em pesquisa de 2021, realizada pelo Anuário Análise Advocacia e contemplando 192 escritórios do país, conclui-se que 80% das bancas contam com mulheres à frente de áreas estratégicas, mas apenas 36% possuem mulheres ocupando a posição de CEOs ou Sócia-Presidente.
Nos EUA, mercado mais relevante do mundo com estimativa de 127 bilhões de dólares por ano (considerando apenas a receita dos 100 maiores escritórios), pesquisa da American Bar Association apontou que pelo sexto ano consecutivo, as mulheres superaram os homens em números de estudantes nas salas de aula das faculdades de direito.
Embora esses números sejam promissores, foi detectada uma preocupante tendência no mercado norte-americano: as mulheres advogadas estão deixando os grandes escritórios de advocacia.
Essa foi a conclusão da consultoria de inteligência jurídica Leopard Solutions, quando ao trabalhar no fechamento de seus relatórios sobre contratações e desligamentos no setor da advocacia, percebeu que um expressivo número de mulheres deixou suas posições em grandes escritórios de advocacia no ano anterior.
Durante a análise dos desligamentos dos 200 maiores escritórios de advocacia norte-americanos, comparando os anos de 2021 e 2022, a consultoria percebeu que cerca de 2.500 mulheres haviam deixado suas posições. Curiosamente, a consultoria não conseguiu interpretar a partir dos dados coletados qual era o destino dessas profissionais, já que elas não reingressaram nos mais de 4.000 escritórios ou 8.000 empresas que a consultoria acompanha.
A Leopard resolveu então debruçar-se sobre esse mistério, dedicando-se a pesquisar especificamente essas mulheres advogadas que saíram dos grandes escritórios para entender o que as motivou a tomar a decisão de desligamento.
As preocupações com a maternidade ou constituir uma família não foram os vetores para as escolhas dessas mulheres. A maioria delas – cerca de 70% – responderam que o fato de ser mãe tinha pouco ou nada a ver com a decisão de deixar suas posições como advogadas.
A pesquisa revelou algo impactante: um dos pontos cruciais da decisão foi a falta de apoio e oportunidades de crescimento em seus escritórios de advocacia – mais de 70% das mulheres responderam que se sentiam excluídas das oportunidades de progressão de carreira.
No início de suas carreiras, mais da metade das mulheres desejavam se tornar sócias dos escritórios, mas no meio dessa jornada, percebiam que mesmo fazendo sólidas entregas, não teriam oportunidades de ocupar posições mais altas.
Para nós – mulheres que ocupam espaços de liderança nesse mercado – o grande insight dessa pesquisa é que a cultura dos escritórios de advocacia está afastando as mulheres advogadas do negócio.
Não é a falta de acesso ao ensino superior, não são os filhos ou a jornada de trabalho. Os escritórios de advocacia brasileiros precisarão de uma estrutura de governança mais robusta para endereçar essa questão.
Para além da manutenção de talentos, os escritórios não conseguirão atender as demandas dos clientes que praticam abordagens mais maduras sobre diversidade e adotam parâmetros dessa natureza como critério para escolha dos fornecedores. Invariavelmente, a falta de ação resultará em perda de receita.
A presença de mulheres na liderança está intrinsecamente relacionada à perenidade dos escritórios de advocacia no Brasil. Pratiquemos!

Camilla Jimene
Sócia do Opice Blum Advogados.