A Proposta de Emenda Constitucional para a redução da jornada 6×1, apresentada pela Deputada Erika Hilton, nesta última semana, deu o que falar e virou trend nas redes sociais. Sob o manto de melhor qualidade de vida, a proposta prevê a redução da jornada de trabalho de 44 horas semanais para 36 horas semanais.
Sobram argumentos contra e a favor à solução proposta e não ouso explorar o tema exclusivamente pelo prisma da qualidade de vida ou do impacto econômico acaso a PEC siga a complexa e mais dificultosa aprovação nas duas casas e na conformidade de quórum qualificado que uma proposta de emenda constitucional é submetida.
Pretendo sim fazer uma provocação sob a ótica da produtividade do trabalhador brasileiro e a uma possível correlação com a quantidade de horas que disponibiliza para a realização das suas atividades.
A relação entre a produtividade de um trabalhador e a quantidade de horas que ele passa à disposição do trabalho é um tema central em debates sobre qualidade de vida, eficiência organizacional e sustentabilidade. Em um primeiro olhar, pode parecer que mais horas de trabalho resultam em maior produtividade, mas estudos e dados práticos mostram que a correlação não é tão simples assim. De fato, longas jornadas de trabalho muitas vezes levam à fadiga, ao esgotamento e a uma diminuição na produtividade e na qualidade do trabalho.
Pesquisas mostram que mais horas de trabalho nem sempre resultam em maior produtividade. Na verdade, há um ponto em que aumentar as horas trabalhadas gera um efeito contrário, com quedas na produtividade média. Estudos da Stanford University, por exemplo, revelam que trabalhadores que passam de 40 para 60 horas semanais experimentam uma queda tão acentuada na produtividade média que a produção total pode diminuir, indicando que o cansaço e a sobrecarga reduzem o rendimento em vez de aumentá-lo
Este fenômeno é apoiado também por estudos em setores específicos, como call centers e indústrias de manufatura, onde a produtividade por hora diminui consideravelmente após certo limite de horas. Além disso, um estudo sobre trabalhadores de moinhos de munição durante a Primeira Guerra Mundial, mostrou que empresas que reduziram a carga horária não retornaram aos turnos longos, uma vez que os ganhos com menos horas foram suficientes para manter ou até melhorar o desempenho
A produtividade é influenciada por múltiplos fatores, que vão além do tempo dedicado ao trabalho. Aspectos como a qualidade do transporte público, o acesso à educação e o investimento em treinamento e desenvolvimento são fundamentais. Quando o trabalhador perde horas no trânsito devido a um sistema de transporte deficitário, ele chega ao trabalho já desgastado, o que afeta o seu desempenho. O impacto no bem-estar e na produtividade é ainda maior quando esse desgaste se acumula diariamente, tornando a rotina desgastante e pouco produtiva.
Além disso, o acesso à educação de qualidade e a programas de desenvolvimento e capacitação são elementos essenciais para a formação de profissionais mais qualificados e preparados para desempenhar suas funções com excelência e eficácia. A ausência dessas condições gera profissionais que, mesmo dedicando mais horas ao trabalho, podem não alcançar o desempenho esperado por falta de habilidades e conhecimento necessários.
Considerando que a produtividade parece não estar relacionada à quantidade de horas que os trabalhadores disponibilizam em prol da realização das suas atividades, talvez já tenha passado da hora de repensarmos as formas de contratação. Vender horas de trabalho por um preço fixo tem se mostrado uma modalidade ultrapassada nestes novos tempos, inclusive nos escritórios de advocacia. Buscar alternativas como contratos por projetos, por metas e resultados evidenciados e uma remuneração alinhada à estas entregas efetivas, podem tornar as rotinas menos desgastantes e improdutivas e quem sabe assim, também nos permitirá avançarmos em novas posições ou possibilidades de remuneração que não se limitem às duas cadeiras hoje existentes nos escritórios jurídicos – associados ou sócios.
Por último, não podemos esquecer que este tema tem afinidade direta com os princípios do ESG, principalmente no aspecto social. A criação de um ambiente de trabalho sustentável vai além da redução das horas de trabalho; envolve a promoção de um sistema mais justo, que considera as necessidades de todos os envolvidos e o impacto de fatores externos, na vida produtiva do trabalhador.
Assim, promover uma jornada de trabalho equilibrada, cientes de que o impacto da produtividade poderá ser ainda mais positivo, não são apenas medidas sociais, mas estratégicas para o desenvolvimento sustentável dos negócios e da economia.
Juliana Albano é cofundadora do coletivo SER A CEO e mentora na Alia Mentoring.