Dando sequência à nossa jornada sobre a evolução do trabalho, neste artigo revisitamos um marco importante da história: a Segunda Revolução Industrial. Após entendermos os fundamentos do modelo taylorista, avançamos agora para compreender como as ideias de Taylor influenciaram Henry Ford e deram origem ao Fordismo, um modelo que, embora tenha revolucionado a indústria, ainda deixa rastros nos ambientes de trabalho atuais.
Durante a Segunda Revolução Industrial, o engenheiro norte-americano Frederick Taylor se destacou com suas ideias sobre eficiência e organização do trabalho. Seus estudos sistematizaram o que viria a ser conhecido como administração científica, um modelo que buscava padronizar tarefas e extrair o máximo de produtividade de cada trabalhador. Essas ideias foram fundamentais para moldar a forma como o trabalho passou a ser organizado nas fábricas e inspiraram, inclusive, um dos nomes mais marcantes da indústria automobilística: Henry Ford.
Ford, empresário visionário, percebeu o potencial dessas práticas ao visitar fábricas em Cincinnati, onde empresários experimentavam uma nova lógica de produção: a manufatura em massa. Até então, a fabricação de automóveis era artesanal, com poucas unidades produzidas e alto custo. Ford decidiu transformar esse processo, adaptando-o ao modelo da produção em larga escala. Seu objetivo era claro: reduzir os custos e, ao mesmo tempo, pagar salários que permitissem aos próprios trabalhadores comprar os carros que produziam.
No entanto, essa eficiência teve um preço alto. O trabalho passou a ser repetitivo, excessivamente controlado e com uma hierarquia rígida, quase militar. A rotatividade nas fábricas da Ford superava os 50%, reflexo da insatisfação e do esgotamento dos trabalhadores. Esse cenário provocou críticas à lógica da produção em massa como no icônico filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, que retrata de forma satírica e sensível a alienação dos operários nas linhas de montagem.
Em 1913, Henry Ford deu um passo decisivo ao implementar a linha de montagem móvel. Inspirado por um frigorífico em Chicago, onde os produtos se moviam por trilhos, Ford aplicou esse princípio na produção de automóveis. Em vez de os trabalhadores se deslocarem até o produto, era o carro que se movimentava em uma esteira, parando em diferentes estações onde operários executavam tarefas específicas. O tempo de produção caiu drasticamente: o volante magneto, que levava 20 minutos para ser montado, passou a ser feito em 5 minutos, dividido em 29 etapas distintas. A fábrica produzia até 800 carros por dia, com custos reduzidos e eficiência máxima.
As contribuições de Taylor e Ford foram, sem dúvida, fundamentais para o avanço industrial da época. Seus modelos marcaram o início da chamada era da ciência e da produção em massa, uma era que, embora tenha surgido no início do século XX, ainda reverbera em muitas organizações no século XXI.
No auge da Revolução Industrial, consolidou-se o modelo de gestão mecanicista, conhecido como Taylorismo, em que a produção seguia uma lógica linear e sequencial, com cada trabalhador desempenhando uma tarefa específica, sem contato com o resultado final. Essa lógica foi tão bem-sucedida na indústria que acabou sendo replicada em outros setores, inclusive nos chamados ambientes do conhecimento, espaços onde o valor é gerado, sobretudo, pelo pensamento crítico, criatividade e colaboração.
E aqui começa um ponto importante da nossa reflexão sobre o futuro do trabalho: embora tenhamos evoluído em diversas frentes, muitos ambientes corporativos ainda operam sob uma lógica industrial. Um exemplo marcante são os escritórios de advocacia.
Mesmo sendo espaços que dependem do raciocínio jurídico, análise estratégica e pensamento sistêmico, muitos escritórios ainda adotam práticas tayloristas: tarefas fragmentadas, baixa autonomia, especialização extrema, comunicação vertical e uma cultura de controle. Os advogados, muitas vezes, tornam-se peças numa esteira contínua de produção de peças processuais, alheios ao impacto do que produzem e sem visibilidade do todo.
É nesse ponto que cabe perguntar: o que aprendemos, ou ainda não aprendemos, com a história do trabalho? E mais: como as práticas ágeis, a colaboração e o foco em pessoas podem nos ajudar a superar os limites desse modelo?
Nos próximos artigos, vamos explorar como os métodos ágeis estão desafiando esse paradigma mecanicista, promovendo uma nova lógica de organização e entrega de valor mais conectada com as necessidades dos trabalhadores do conhecimento e, principalmente, com o futuro que queremos construir.
Se esse tema faz sentido para você, te convido a seguir acompanhando os próximos artigos, vamos explorar como os métodos ágeis podem romper com esse modelo tradicional e abrir caminhos para novas formas de trabalhar, colaborar e inovar.
Verheyen, Gunther.Scrum- um guia de bolso: um companheiro de viagem inteligente.2019.ebook, p.14
https://www.lean.org.br/artigos/448/uma-nova-forma-de-gestao.aspx
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Ebook- jurídico agil- p.8