Além das questões técnicas de cada área, é fundamental estar atento ao desenvolvimento de habilidades comportamentais
Não é à toa que os temas atração e retenção são sempre um grande desafio e pautas recorrentes dos profissionais de recursos humanos e gestores. Em um mundo cada vez mais ágil e incerto, a complexidade na busca por talentos também cresceu significativamente. Não se trata mais de procurar por currículos “certos”, fazer uma boa entrevista e cumprir com os prazos apertados de contratações, mas entender e se adaptar a um mundo corporativo que vem mudando com rapidez e exigindo novas competências profissionais.
Para falar sobre esse tema, divido meu texto com uma grande parceira de trabalho, Maria Eduarda Silveira, que não só sempre esteve na busca por talentos, mas que também, nos últimos anos, vem estudando tendências de mercado e do profissional do futuro. Por atuar nesta área, acredito que esse processo seja ainda mais desafiador e mudará a forma como olhamos para as pessoas e suas habilidades. É um caminho sem volta e exigirá que gestores e RHs busquem, cada vez mais, um olhar único e humanizado para os seus times.
De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, publicado em maio deste ano, a perspectiva é que as empresas automatizem 42% de suas tarefas até 2027. Na era da Inteligência Artificial, mais do que nunca, se faz necessário dar destaque às habilidades humanas. Aqui, nos referimos àquelas que tornam cada indivíduo uma pessoa única, como empatia, criatividade, competências de liderança, capacidade de resolução de problemas complexos, dentre tantas outras.
Sabemos que o universo do trabalho é dinâmico e está constantemente se reinventando para acompanhar e sobreviver às mudanças da sociedade ao redor. Viver estes momentos de transformação pode parecer assustador em um primeiro momento. Porém, para aqueles que estão comprometidos em manter uma jornada de desenvolvimento ao longo de suas trajetórias de carreira, não há nada a temer.
Estar atento às competências que precisam ser desenvolvidas para acompanhar toda essa transformação é a chave para se manter competitivo e, no mundo atual, desconsiderar as habilidades comportamentais não é uma opção.
Ainda referenciando o relatório do Fórum Econômico Mundial, grandes tendências relacionadas ao ambiente de trabalho pontuadas pelo material estão ligadas ao autodesenvolvimento, ou seja, às habilidades socioemocionais e relacionais. Dentre elas, três chamam a atenção, sendo a primeira a de liderança e influência social, que contribuem para a motivação, engajamento, desenvolvimento de talentos e na capacidade de influenciar positivamente as equipes e a organização como um todo.
Na sequência, destaco a empatia e a escuta ativa, pois promovem relacionamentos saudáveis, melhoram a comunicação, facilitam a resolução de conflitos e fortalecem a liderança. Ao desenvolverem essas habilidades, os profissionais passam a ter condições de criar um ambiente de trabalho mais inclusivo, colaborativo, com resultados melhores e, principalmente, mais sustentáveis.
Por fim, está a literacia digital, um requisito essencial para muitos empregos, desde habilidades básicas, como usar um processador de texto, até aquelas mais avançadas, como análise de dados e, até mesmo, programação.
Áreas que sempre foram pautadas pelos aspectos técnicos e acadêmicos, como a jurídica, agora passam por uma transformação. Neste caso, essas questões não deixaram de ser importantes, já que falamos de uma área que requer materialidade, segurança jurídica e precisa ser pautada por leis. Porém, tudo está se transformando. Novas leis estão surgindo para acompanhar os movimentos tecnológicos e o próprio mercado vem exigindo um olhar diferente em relação à resolução de problemas e à solução de serviços jurídicos, que precisam ser mais criativos e alinhados à tecnologia e às transformações presentes no setor atualmente.
Há um crescimento na demanda por advogados cada vez mais completos, que tenham habilidades desenvolvidas no tripé de competências técnicas sólidas, relacionamento interpessoal e visão de negócio. Isso significa que este profissional precisa estar apto para oferecer respaldo e segurança jurídica ao mesmo tempo que tem habilidades para gestão de pessoas e de relacionamento com stakeholders, bem como a compreensão de como as leis e os elementos do contexto ao redor influenciam e viabilizam o negócio.
Destacar-se no mercado de trabalho nunca foi tarefa fácil e, com as transformações conjunturais enfrentadas pelos negócios em velocidade acelerada, a capacidade de lidar com mudanças e se adaptar acabam sendo decisivas. Por isso, entregar além das habilidades técnicas e daquelas que a tecnologia já vem avançando e otimizando funções se torna um aspecto tão relevante e passa a ditar as novas competências que precisam ser desenvolvidas pelos profissionais.
*Por Maria Eduarda Silveira, headhunter e fundadora da consultoria de recrutamento especializado e desenvolvimento organizacional Bold HRO, e Renata Sadakane Maiorino Arcon, diretora de Desenvolvimento humano do Mattos Filho.