DATA CENTERS, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ADVOCACIA CORPORATIVA

(BUSCANDO O EQUILIBRIO E A SUSTENTABILIDADE)

A tecnologia, assim como a própria criatividade e a inovação fazem parte da rotina do ambiente corporativo, e as organizações precisam estar não apenas atualizadas e rapidamente adaptadas ao que os mercados “demandam”, como também precisam tentar “sair na frente”; mas propomos que os movimentos sejam sempre muito bem pensados e planejados.

A provocação é tão atual quanto importante, e abre espaço para áreas e setores como a advocacia corporativa, o planejamento estratégico, a governança corporativa, o “compliance”, a sustentabilidade e todo o pilar E-ESG ajudarem a construir valor com segurança.

Identificar e aproveitar oportunidades é tarefa para todos nós, mas sempre ajudando a conhecer o cenário e o contexto, com a maior amplitude possível, para que se consiga de um lado efetivamente gerar valor com os movimentos de aproveitamento de oportunidades, e do outro tentar identificar e precificar custos e crises.

“Data Centers” e Inteligência Artificial são temas abordados em praticamente todos os encontros empresariais da atualidade, assim como automação crescente, algoritmos, transição energética, destinação de resíduos, sustentabilidade, aplicativos (apps) e diversos outros pontos do atual estágio da tecnologia.

Recomendar que “todo esse arsenal” de pontos e de temas integrem a pauta dos conselhos e diretorias das organizações, e que as áreas de tecnologia, sustentabilidade, e gestão de risco, dentre outras já não seria novidade, mas há um ponto que precisa ser melhor entendido e considerado nos movimentos empresariais, que é justamente a busca pelo equilíbrio e pela sustentabilidade na implantação dessas estratégias de negócios.

A questão dos veículos movidos a energia elétrica, por exemplo, é bastante exemplificativa para o que aqui propomos, uma vez que de fato deixam de queimar combustível fóssil e ajudam a reduzir a emissão de gases/carbono, mas em paralelo provocam outras questões como a própria cadeia produtiva desses veículos, os demais componentes, e em especial dois: as baterias, e o consumo de energia elétrica.

Se a energia elétrica é de fato mais “limpa”, ela também tem suas restrições, e o Brasil tem passado por várias situações complexas e preocupantes no tocante à disponibilidade de energia elétrica – do que pouco se fala.

O Brasil tem diversas usinas hidrelétricas, e já conta com razoável parque de geração de energia eólica e solar (fotovoltaica), mas não deixa de utilizar também outras formas de geração de energia, inclusive termoelétrica.

E, como sabemos, nos últimos anos, inclusive neste, tivemos que conviver com as “bandeiras mais caras”, em decorrência tanto do aumento de demanda quanto da escassez hídrica. Ou seja, o Brasil, na prática, não tem nem excesso e nem abundância de energia elétrica, de forma que movimentos e caminhos que demandem mais energia precisam ser bem pensados.

Atualmente, já não devemos conceber atividades, eventos, encontros, que não abordem efetivamente seus impactos ambientais e humanos, pois temos que escolher as alternativas mais sustentáveis, e buscar formas de emitir menos carbono, poupar recursos, como água e energia etc.

A reflexão relativa aos veículos elétricos, acima exemplificada, “cabe” também para o tema central deste texto, pois podem não ser realmente sustentáveis, ou ao menos não plenamente. Especialmente se o nosso País continuar a passar por tantos (e tão longos) períodos de estiagem (e de seca).

Provavelmente nem todos saibam que a Inteligência Artificial (e todo o seu contexto) consome (ainda que “indiretamente”) muita água e muita energia elétrica, além de no seu conjunto demandar mais equipamentos (que invariavelmente geram lixo eletrônico).

Sua organização já “mede” e procura ao menos neutralizar a emissão de carbono? E o consumo de água, e o de energia – estão sendo reduzidos? E o lixo eletrônico? Talvez em alguns casos ainda estejam “no mais básico”, cuidando dos resíduos não biodegradáveis e da efetiva reciclagem (rastreada e certificada), e tenha chegado a hora de ampliar esse cuidado _ nem que seja por pressão dos mercados e da sociedade.

O aumento do uso da IA, e por sua vez dos “data centers” (que precisam de muita energia, e também de muita água – sendo está para refrigeração) geram aumento do uso desses recursos que não são tão abundantes como muitos talvez acreditem, e que além dos custos diretos e mais evidentes, geram também esses: água, energia elétrica, resíduos eletrônicos.

Todo esse contexto tem e gera impactos, que precisam ser considerados com verdade, coragem e transparência, temas em que as áreas acima mencionadas podem e precisam tanto participar dos projetos e das estratégicas, como incluir nas pautas corporativas essas questões.

Equipamentos eletrônicos mais moderno, com maior capacidade, mais potentes, com mais bateria etc geram cada vez mais consumo desses itens, numa “espiral sem fim”, além de gerarem muito lixo eletrônico.

Na mesma linha, mesmo as usinas elétricas, e também os equipamentos de geração/captação de energia eólica e solar geram impactos, resíduos, e mesmo lixo eletrônico (dos painéis às baterias, por exemplo).

Cada busca em canais de pesquisa, cada “prompt”, cada novo aplicativo que a “sua empresa” gere, tem impactos que podem e devem ser medidos, pois não podemos mais acreditar (e nem defender) que “apenas” redução das emissões diretas de carbono, redução do desmatamento e das queimadas, ou mesmo a poluição direta do solo, de rios e dos mares esgotem o tema da consciência, da responsabilidade e da sustentabilidade.

Crescentemente, por consciência, por convencimento ou por constrangimento (além de já termos alguns avanços em termos legais e regulatórios) as organizações precisam considerar essas questões em suas estratégias e movimentos, notadamente as organizações com valores mobiliários listados em bolsas de valores, reguladas pela CVM (no caso brasileiro), seguindo os padrões de governança corporativa, e todas as demais que direta ou indiretamente, e com os apoios do legislativo e das agencias reguladoras, precisam se adaptar à realidade corporativa de responsabilidade.

Nesse sentido, e considerando que obviamente não se pode deixar de acompanhar as demandas e as inovações, e nem tentar segurar a ampliação do uso da tecnologia, temos que encontrar juntos as maneiras de tentar equilibrar esses aspectos, em benefício dos próprios negócios, da sociedade e do Planeta.

A primeira vista alguns podem acreditar que esse tema seja de “menor importância”, ou mesmo que seja utópico, mas a verdade é que a sociedade está buscando não apenas mais informação, e crescentemente buscando alternativas melhores  e mais sustentáveis para suas vidas e consumo, como esse movimento impacta vendas e decisões de consumo, além do já mencionado avanço legislativo e regulatório (no Brasil e no mundo em geral) que igualmente ditarão limites, critérios e normas para as operações das empresas.

Chamamos, então, a atenção de colegas empresários e empreendedores em geral, executivos, investidores, bem como advogados, profissionais de “compliance”, de governança corporativa e de sustentabilidade E-ESG para que se informem mais e melhor sobre essas questões, para que consigam incluir essa pauta nas estratégias das organizações, procurando caminhos de avançar com a tecnologia, a automação e mesmo a IA, de maneira segura e sustentável.

O equilíbrio e a sustentabilidade são necessários e possíveis, mas precisamos estar sempre atentos às melhores práticas, enquanto ainda existem alternativas “voluntárias”/”opcionais”, pois tudo indica que rapidamente venhamos a lidar com determinações legais, regulatórias e mesmo ditadas por clientes, que gerem ajustes bem mais profundos, urgentes e caros.

Sustentamos que seja possível encontrar o equilíbrio e agir com responsabilidade na construção da sustentabilidade no universo corporativo.

 Temos que encontrar maneiras de fazer isso. Sigamos juntos.

Leonardo Barém Leite é sócio sênior do escritório “Almeida Advogados” em SP, especialista em negócios, Direito Societário e Contratos, Fusões e Aquisições (M&A), Governança Corporativa, Sustentabilidade e ESG, “Compliance”, Projetos e Operações Empresariais, e Direito Corporativo; também é árbitro, professor, conselheiro, e autor de diversas obras. Presidente da Comissão de Direito Societário, Governança Corporativa e ESG da OAB-SP/Pinheiros.

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