De acordo com o Relatório de Desigualdade de Gênero de 2024 do Fórum Econômico Mundial, as mulheres são quase a metade dos cargos de entrada nas empresas mundialmente, no entanto representam apenas 31,7% dos cargos de liderança sênior e menos de um quarto estão em funções de C-Level.
E os desafios para a liderança feminina começam muito além da vida profissional: são uma série de situações que colaboram para a desigualdade de gênero e, assim, resultam em um número muito menor de mulheres nos papéis de liderança.
Um dos pontos fundamentais a ser abordado é a depressão. Segundo a OMS, a depressão é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens. Pudera! É impossível dissociar o fator biológico e social da mulher, especialmente quando relacionado a processos naturais de oscilações hormonais, gestação, parto, pós-parto, perimenopausa e menopausa.
Além disso, os fatores socioeconômicos e culturais ligados ao papel da mulher na sociedade são, com certeza, os que trazem maior prejuízo para o equilíbrio emocional. O trabalho de cuidado do lar, dos filhos e, em alguns casos, até dos pais sempre foi executado pelas mulheres, seguindo uma construção histórica que atribui a elas a ideia de amor incondicional.
A questão é que, especialmente nos últimos 100 anos, a mulher saiu do papel exclusivamente de cuidadora para assumir, muitas vezes, também a posição de provedora, acumulando funções e gerando uma sobrecarga física e emocional. Dados da pesquisa de Estatísticas de Gênero no Brasil, publicada pelo IBGE em 2022, apontam que mulheres e meninas a partir de 14 anos dedicam, em média, 10 horas a mais que os homens às tarefas domésticas. Esse número sobe para quase 12 horas a mais quando falamos de mulheres pretas ou pardas. A dupla jornada para equilibrar responsabilidades domésticas com o trabalho remunerado pode levar ao estresse crônico e à exaustão mental.
Outro ponto importante a ser abordado é a pressão social decorrente desse cenário: lidar com sentimentos de cobrança entre maternidade e trabalho, em que um sempre se sobressai ao outro. A pesquisa Women in the Workplace 2021, da McKinsey & Company e Lean In, revela que 42% das mulheres ao redor do mundo experimentam sintomas de burnout. São vários aspectos que contribuem para esse distúrbio, como a desigualdade salarial e a falta de acesso a oportunidades educacionais e profissionais.
Diante de tantas razões citadas, a pauta do trabalho feminino precisa avançar para um modelo social sustentável, numa perspectiva mais humanizada. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que, até 2030, haverá um número adicional de 100 milhões de idosos e de 100 milhões de crianças de 6 a 14 anos que necessitarão de cuidadores.
Precisamos refletir sobre as ações necessárias, tanto pela iniciativa pública, quando pelas organizações privadas, para promoção da igualdade de gênero e redução da vulnerabilidade em relação à saúde mental. Por exemplo:
- Letramento e conscientização sobre igualdade de gênero;
- Políticas e iniciativas para melhor suportar a saúde mental da mulher;
- Discussão acerca de soluções para a questão do trabalho de cuidado;
- Ações afirmativas das organizações privadas para promoção da igualdade de condições e oportunidades no mercado de trabalho;
E por fim, ressaltar a importância de iniciativas de sororidade e mútuo apoio feminino, como o coletivo SER.A.CEO, que tem a missão de apoiar as mulheres para que alcancem o protagonismo e estejam em condição de igualdade com os homens, são imprescindíveis.
Lívia Franciulli
Participante do coletivo SER.A.CEO. Advogada, Data Protection Officer (EXIN) e Chief Happiness Officer (Woohoo Partnership). Empreendedora, consultora organizacional, palestrante e professora de Gestão e Liderança. Após 20 anos de experiência em grandes telcos, incluindo posições de gerência executiva, em 2023 fundou a Realive Consultoria e Desenvolvimento para apoiar pessoas e organizações em projetos de Gestão de Clima, Cultura, Saúde Mental e Felicidade.
