Advocacia Estratégica nos Departamentos Jurídicos: A Força da Experiência Contra o Etarismo

Em um cenário corporativo cada vez mais dinâmico, onde a pressão por resultados rápidos e soluções imediatas dita o ritmo dos negócios, os departamentos jurídicos enfrentam o desafio de se reinventar. Já não basta atuar de forma meramente reativa, lidando com litígios e riscos depois que eles se concretizam. A palavra de ordem é advocacia estratégica — uma abordagem proativa, analítica e alinhada aos objetivos da organização como um todo.

Nesse contexto, ganha espaço um debate necessário: a valorização da experiência jurídica. Em contramão às tendências etaristas que, lamentavelmente, ainda persistem no mercado de trabalho, é justamente o olhar maduro e o acúmulo de vivências dos advogados mais experientes que garantem a consistência e profundidade necessárias para uma atuação estratégica de verdade.

O que é advocacia estratégica?

A advocacia estratégica ultrapassa a técnica. Trata-se da capacidade de entender o negócio, antecipar cenários, construir soluções preventivas, otimizar estruturas contratuais e proteger a reputação institucional com visão sistêmica. É transformar o departamento jurídico de um centro de custo para um centro de inteligência decisória.

Essa transformação exige mais do que domínio normativo. Exige leitura de contexto, sensibilidade política, habilidade de negociação e conhecimento intersetorial — elementos que dificilmente se encontram em profissionais recém-formados ou com pouca rodagem corporativa.

A experiência não se improvisa

Apesar dos avanços tecnológicos e da renovação constante do mercado, a maturidade profissional continua sendo insubstituível. Advogados com 20, 30 ou mais anos de atuação acumulam algo que nenhum curso online ou inteligência artificial consegue replicar: julgamento sólido.

São profissionais que já viram diferentes crises e ciclos econômicos, já enfrentaram mudanças legislativas radicais, reestruturações empresariais, fusões complexas e disputas bilionárias. Têm a capacidade de tomar decisões com serenidade sob pressão e de equilibrar riscos legais com impactos de imagem, financeiros e operacionais. São, em suma, consistência em meio ao caos.

Etarismo: o preconceito que empobrece

Infelizmente, o etarismo ainda marca presença nos processos de seleção, sobretudo em cargos de média e alta liderança nos departamentos jurídicos. Essa exclusão silenciosa de profissionais mais velhos — muitas vezes travestida de “inovação” ou “perfil jovem” — representa uma miopia estratégica.

Ao preterir profissionais seniores com base apenas na idade, empresas abrem mão de competências críticas: pensamento de longo prazo, autoridade técnica, equilíbrio emocional, habilidade em resolver conflitos internos e externos e uma rede de contatos que foi construída com credibilidade ao longo de décadas.

A verdadeira inovação não está em substituir a experiência por juventude, mas em criar ambientes onde diferentes gerações aprendem e crescem juntas. A diversidade etária é uma das formas mais potentes de enriquecer o pensamento jurídico estratégico.

A hora de repensar o jurídico é agora

Em um mundo onde riscos jurídicos se convertem rapidamente em riscos reputacionais e financeiros, as empresas que apostam em departamentos jurídicos com base puramente operacional tendem a pagar caro no médio e longo prazo. É hora de parar de ver o jurídico como “quem diz não” e começar a enxergá-lo como “quem mostra o melhor caminho”.

Para isso, é preciso dar protagonismo a advogados com visão, bagagem e coragem — qualidades que, em geral, vêm com o tempo.

A advocacia estratégica não é só o futuro dos departamentos jurídicos. Ela é o presente das empresas que querem sobreviver com inteligência. E nesse presente, a voz da experiência é mais valiosa do que nunca.


Jones Marciano de Souza Junior

É advogado com sólida trajetória como executivo jurídico em empresas líderes nos setores de varejo, alimentação e mobilidade, como Casas Bahia, International Meal Company (Frango Assado, Viena, Pizza Hut, KFC), Grupo Comolatti (BR Autoparts, Sama, Laguna, Matrix, Pellegrino, Rede PitStop, Iveco, Cofipe, Terraço Itália), Grupo Simpar (Automob) e Olive Garden Brasil.

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