ChatGPT e o marketing jurídico: benefícios e cuidados nessa relação

Muitos leitores deste artigo já devem ter experimentado o Google Tradutor, Grammarly ou outra plataforma de tradução ou revisão de textos em outros idiomas, com diferentes níveis de satisfação. É inegável que, em boa ou alguma medida, esses recursos, que utilizam inteligência artificial, auxiliam nossas atividades de trabalho, estudo e pesquisa, por exemplo. Entretanto, a avaliação da qualidade da informação que recebemos vai depender, essencialmente, do nível de conhecimento que temos do idioma pesquisado. É similar a experiência ao usar o ChatGPT, o chatbot desenvolvido pela OpenAI – mais especificamente um modelo de linguagem treinado em larga escala – que, provavelmente como outros concorrentes em vias de serem lançados, tende a revolucionar a forma de produção de conteúdo, a operação do marketing, o atendimento a clientes e outras atividades de todos os setores de mercado, em que se insere o segmento jurídico.

Lançado em versão beta ao final de novembro de 2022, o ChatGPT se tornou a “manchete de todos os meios”, gerando críticas positivas, negativas e meio-termo mundo afora.

Um chatbot de distinção

Até então, a experiência geral com chatbots – muitas vezes frustrante – era ter respostas a perguntas ou realização de tarefas para solicitações bastante específicas, como a descrição sobre determinados serviços. Já no caso do ChatGPT, por ter sido treinado em uma ampla variedade de tarefas linguísticas, a plataforma responde às mais diversas perguntas, gera diferentes tipos de texto, traduz idiomas e até mesmo sugere ideias e insights com base no contexto da conversa.

Pelas interações (que incluem correções passadas pelos usuários), essa IA vai somando aprendizados e, como resultado, vai aprimorando a qualidade das repostas, em um processo de melhoria contínua e de personalização que é uma verdadeira aula a nós, humanos.

A capacidade de resposta em formas variadas também é notável. Podemos solicitar textos mais extensos/detalhados ou uma síntese em um parágrafo sobre o mesmo tema, como tabela, em tópicos, entre outros formatos.

Um facilitador e não um substituto

A partir de interações com humanos, o ChatGPT apresenta conteúdos bastante realistas (em linguagem natural), com base em um conjunto de dados de texto de diversas fontes acumulados até setembro de 2021, por enquanto. Exatamente por impressionar pela abordagem naturalmente convincente, os textos induzem muitos a considerar que estejam 100% corretos. Eis aí o grande risco.

O ChatGPT efetivamente possui alta capacidade de compreensão de instruções, perguntas e outros comandos, gerando retornos que podemos classificar como surpreendentes enquanto inteligência artificial. É inegável que há muitos benefícios no uso do recurso para diversas atividades da operação jurídica, e o marketing também pode se beneficiar muito das funcionalidades que essa IA já oferece para maior eficiência na condução dos trabalhos, como por exemplo, para gerar conteúdos iniciais para finalidades diversas, simplificar textos mais densos/técnicos, alterar formatos de apresentação de informações, traduções, entre outras possiblidades. Mas, a qualidade do conteúdo continua dependendo do nível de conhecimento do humano que interage com a máquina.

Já pelo uso dos prompts (instruções passadas pelo usuário para a resposta pela IA), pode-se ter retornos com erros expressivos pela falta de indicações corretas sobre o assunto de interesse. Alterações mínimas na forma de instrução sobre um mesmo tema geram respostas absolutamente distintas. Diferentes testes envolvendo marketing e desenvolvimento de negócios no setor jurídico, por exemplo, trazem desenvolvimento de negócios como uma prática distinta e em alto nível de importância para escritórios e profissionais do Direito, ou uma atividade acessória na operação do marketing. Vale destacar, entretanto, que a naturalidade e expressões de convencimento e persuasão nas diferentes respostas (mesmo sem o uso de comando de copywriting) levam muitas pessoas a considerar ambas como verdade absoluta.

Enquanto em pesquisas por buscadores como o Google vamos acessando conteúdos diversos, selecionando fontes específicas, validando e revalidando informações, o ChatGPT nos entrega uma única resposta que, “em tese”, já passou por todo esse processo. A questão é que a autonomia do algoritmo na seleção e combinação do conteúdo para a resposta é diferente da autonomia humana. Ainda que orientemos pelos prompts o uso de fontes confiáveis, o que a IA considera como fonte confiável pode não ser o que um especialista no assunto consideraria.

Cuidados essenciais

O ChatGPT passa a ser um recurso de valor na operação de marketing e, essencialmente, na comunicação dos escritórios e profissionais do Direito. Isso está longe de dizer que suas respostas sejam verdades absolutas e que a orientação seja “copia, cola e divulga”. Por mais convincente que pareça a resposta, o conselho é partir do princípio de que há erros. É fundamental que o(a) profissional considere o texto apresentado pela IA uma base inicial para o seu trabalho, e que ele(a) tenha conhecimento ou pesquise mais sobre o tema e fontes (indicadas e não pela IA) para editar o conteúdo antes de usá-lo.

É importante ressaltar que embora seja possível usar prompts para respostas mais aprofundadas sobre assuntos específicos pesquisados, não teremos necessariamente um volume maior de texto com qualidade. Na verdade, o que se observa em testes diversos é uma linguagem natural em uma resposta superficial, com redundância notável no conteúdo – como se a IA tivesse esgotado seu repertório sobre o tema e passasse a repetir informações, ditas de forma diferente.

Embora o ChatGPT tenha o valioso benefício da linguagem natural, a abordagem da resposta pode não expressar o tom de voz da marca de um escritório e mesmo o perfil de um(a) profissional do Direito.

Sem entrar no mérito de questões éticas e de regulamentação que ainda precisam ser tratadas, é preciso lembrar que o ChatGPT não trabalha com informações originais, mas com dados de texto já existentes. Nesse sentido, é preciso muita atenção no uso de respostas geradas pela plataforma para conteúdos de sites, sob o risco de penalização pelo Google por plágio.

Também vale lembrar que o modelo está operando com dados armazenados até setembro de 2021. A depender da informação pesquisada, o nível de desatualização pode ser bem expressivo.

A tecnologia continua desempenhando um papel fundamental na operação do marketing jurídico. Toda nova solução precisa ser compreendida e aplicada de forma a adicionar real valor à estratégia dos escritórios e profissionais do Direito. Façamos o melhor uso do ChatGPT para essa finalidade.

Andréia Gomes
Sócia-fundadora da AGomes Marketing Consultoria, Cofundadora da Latin America Legal Marketing Alliance, Especialista em Gestão Estratégica de Marketing e Desenvolvimento de Negócios para o Setor Jurídico.
agomes@agomesconsultoria.com.br

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